Escrita Corpo Falante

Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

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Eventos Segundo Semestre 2011

Estou passando rapidamente para lembrar dos maravilhosos eventos que teremos nessa segunda metade do ano. Eu estarei presente em apenas um deles mas confesso que gostaria de participar de todos.

O primeiro acontece em Curitiba entre os dias 24 e 27 de agosto. É o Congresso Internacional sobre o autismo: Prevenção, Intervenção e Pesquisa. Psicanalistas de peso estarão presentes, como Angela Vorcaro, Alfredo Jerusalinsky e Marie-Christine Laznik. Não dá mais para submeter trabalhos mas ainda é possível efetuar a inscrição como ouvinte. Durante o congresso acontecerão cursos com esses profissionais e por isso o valor das inscrições depende do conjunto de cursos que você deseja se inscrever. Mais informações no site: http://www.congressoautismo.com/index.html

Na seqüência, entre os dias 29 2 31 de agosto, acontece o CONLAPSA: I Congresso Latino Americano de Psicanálise na Universidade. Ele será no Rio de Janeiro e também terá Psicanalistas de peso como Sonia Alberti, Antonio Quinet, Marco Antonio Coutinho Jorge, Luciano Elia e muitos outros… O prazo para submissão de trabalhos terminou, mas ainda é possível se inscrever como ouvinte. Mais informações no site: http://www.conlapsa.com.br/

De 27 a 29 de outubro lá em Salvador vai acontecer o II Congresso Internacional de Psicanálise: A criança e o adolescente no século XXI. Nesse também não é mais possível submeter trabalhos mas ainda é possível se inscrever como ouvinte. É confirmada a participação da Psicanalista Marie-Christine Laznik nesse evento também. Mais informações: http://www.cipsicanalise2011.com.br/event/cip2011/site/content/bem-vindos

Dos dias 04 a 06 de novembro, em Salvador, vai acontecer o XII Encontro Nacional da escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano EPFCL. O tema desse ano é “A lógica da interpretação”. Com muitos Psicanalistas presentes, também vai contar com a presença do AME Marc Strauss (Paris).

No final do ano, entre os dias 09 e 11 de dezembro, acontecerá em Paris o III Encontro Internacional da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano. Mais informações no site: http://www.champlacanien.net/public/4/evRencEcole.php?language=4

E assim vamos produzindo e transmitindo a Psicanálise pelo mundo.

Reforma Psiquiátrica e clínica da psicose: o enfoque da Psicanálise

Essa palestra foi proferida pelo convidado Prof. Dr. Fuad Kyrillos Neto no mês de Julho, na Universidade Federal de Uberlândia. Convidado pelo Eixo da Intersubjetividade do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFU, o professor falou sobre Reforma psiquiátrica e clínica da psicose: o enfoque da psicanálise.


“Prof. Dr. Fuad Kyrillos Neto possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1993), mestrado em Psicologia pela Universidade São Marcos (2001) e doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Atualmente é professor adjunto I do Departamento de Psicologia Clínica e Sociedade da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: clínica, subjetividade, psicanálise, reforma psiquiátrica, inclusão, escuta e instituições” (Lattes)

 

*O gravador estava com problemas no dia da gravação e o audio não ficou muito bom, bem baixo. Mas é possível escutar. Espero que possam aproveitar porque a palestra foi muito boa.

Jornal Significantes

Apresento o meu mais novo projeto: O Jornal Significantes. Ele surgiu e foi desenvolvido junto com meus colegas, alunos do Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. Como todo novo projeto, ainda está em desenvolvimento. Espero que gostem.

Ele está disponível aqui: http://jornalsignificantes.tumblr.com/

Se quiser receber por email, envie um email para jornalsignificantes@gmail.com que nós enviaremos.

(Aproveito para pedir desculpas pelo meu último post, que saiu bloqueado, com senha. Ele já foi liberado. Se tratava apenas de uma entrevista, vocês podem ver aqui: http://www.alinesieiro.com.br/2011/07/04/olha-o-que-eu-olho-perceber-e-conceber-criar/ )

Olha o que eu olho: perceber é conceber, criar.

* Esta reportagem foi publicada no Jornal Significantes, em sua primeira edição (Maio/Junho 2011).

Por Aline Sieiro

A professora Anamaria me chamou atenção desde o primeiro dia em que a conheci, na minha entrevista de seleção do mestrado. Alguma coisa no seu jeito amável, na sua voz suave me deixaram tranqüila e ao mesmo tempo curiosa, instigada. Tempos depois, já na disciplina de Métodos de Pesquisa em Psicologia, no Mestrado, tivemos a oportunidade de ter duas semanas de aulas com ela. Me surpreendi com o jeito sedutor que ela apresentava a Psicanálise para alunos de diversas áreas. Achei de uma sensibilidade imensa a forma como ela apresentava o seu trabalho e a Psicanálise para todos nós.

Naqueles encontros, percebemos o valor que ela dá para a experiência e em como se envolver no que fazemos de forma a transformar e estar sempre criando e cultivando vínculos. Em certo momento, os alunos puderam compartilhar uma experiência de suas vidas, e toda a sala ficou muito emocionada com a oportunidade de produzir um momento de vínculo, reflexão e muita emoção.

Quando pensei na possibilidade de produzir uma entrevista para o Jornal, convidei algumas pessoas, mas a oportunidade de abrir este espaço com a fala da professora Anamaria fez muito sentido. Me parece importante conhecer um pouco mais de alguém que tem o desejo de nos incentivar e motivar para algo mais. Me parecia interessante também reparar nessa união que por vezes parece contraditória, entre uma pesquisadora tão sensível e um tema de pesquisa tão perturbador como é a violência. Como trabalhar com violência e ainda ser tão sensível aos outros, preocupada e atenciosa? Começo a acreditar que esse é o caminho, não tão contraditório assim…

Apresento aqui o áudio da entrevista. Como sempre, o tempo é curto e as perguntas são muitas, por isso deixamos vocês com gostinho de quero mais…

(Quem quiser o a versão online do Jornal – com a reportagem escrita – deixe um comentário com o email que eu envio. Ainda não estamos com o site do jornal ativo, aviso assim que estiver).

Podcast Episódio 08 – Blog Associação livre: Produção de texto na internet

Demorei mas retornei. E volto logo com o audio de uma fala que fiz no curso de Tradução da Universidade Federal de Uberlândia, em que fui gentilmente convidada pela Profa. Cirlana. A temática era a produção de texto, e no meu caso fui convidada para falar sobre a produção de textos para a internet. Espero que gostem de escutar um pouco da história do meu blog e de como acontece a produção das escritas do meu texto.

Links de textos comentados durante o podcast:

Música do Podcast: B.W.O.J. – The D.O.

Qual será seu próximo remédio?

O desejo de encaixotar os sentimentos, a moral e a ética não é novo. E agora dá as caras nas embalagens de remédios que rodam na internet com palavras como Juízo, Desapego. Brincadeirinhas (ou chistes – como diria Freud), nos contam um pouco do desejo de uma sociedade que, em formato jocoso, mostra a cara.

 

Vivemos um momento em que, para todo problema mental, existe uma cura a partir de um remédio indicado. Assim, não é de se estranhar que queiram achar uma pílula que sirva para colocar juízo na cabecinha das pessoas. Mas, ainda bem que não chegamos a esse ponto. E me pergunto, até quando? Porque hoje é apenas uma questão de tempo para que a indústria farmacêutica produza novos sintomas, redefina situações que necessitem de um remédio, que claro, eles já tem em estoque nas farmácias.

Pra tudo hoje temos um transtorno associado – DSM tá ai para nos mostrar isso. E para cada um deles, tempos pelos menos três remédios de indústrias distintas. Tá com dor de cabeça? Remedinho pra vc. Tá com saudade de alguma coisa que nunca existiu? Remedinho para você? Seu amor faleceu ontem? Outro remedinho para voce.

A Psicanálise ainda sustenta que viver é estar o tempo todo fazendo laço, ou seja, criando sentido para o absurdo que é viver. Mas, como criar sentido se nos espaços em que isso se faz possível, há sempre um remedinho esperando por você? Os remedinhos alimentam essa ilusão social de que é preciso ser feliz vinte e quatro horas/sete dias por semana, e essa felicidade é um ideal possível. Até quando vamos desejar ser escravos de uma ditadura do gozo? Quando as pessoas terão coragem para desejar, com toda dor e com todo prazer associados?

“O doce não seria tão doce se não fosse pelo amargo”. (Filme Vanilla Sky)

A partir dos tropeços, dos “entre”, é que os sujeitos e seus desejos podem advir. Então, faço um apelo: parem de repassar informações sem conteúdo. Não sejam meros reprodutores dessas “brincadeirinhas” que ajudam a alimentar um idéia repressora da singularidade e do desejo. Não tenham juízo. Tenham ética: a ética do seu desejo, tão particular quanto ele pode ser.

 

Bin Laden morreu 4000 mil vezes por segundo no twitter – Informação, opinião e fala vazia

No dia da morte de Bin Laden, o twitter registou mais de 4000 tweets por segundo sobre o assunto. Na minha timeline do twitter não foi diferente: piadas, comentários, links para notícias e posts sobre o tema e tudo mais que possamos imaginar. E no dia seguinte os posts em blogs pessoais pipocavam. Irritada, comentei sobre isso no twitter, e acharam que eu não estava sendo sensível com um momento histórico: “oras, essa informação não é apenas mais uma notícia do dia, é a história acontecendo”.

Me expliquei um pouco, mas naquele momento me calei. Em geral, quando estamos bravos com alguma coisa, não conseguimos explicar com clareza o que queremos dizer. Mas agora, depois de um tempo refletindo, tenho mais clareza sobre minha crítica e porque ela aconteceu.

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que a história está acontecendo todo dia, o tempo todo. Portanto, dizer que uma notícia deve ser falada até o exagero porque se trata da história acontecendo é apenas uma desculpa para falar quando não se tem o que dizer. O que você quer pontuar quando fala o tempo inteiro, ou melhor, repassa o tempo inteiro uma notícia de algo que está acontecendo agora? Que você está em dia com a informação? Que você é conectado? Que você marca a importância do momento? Dúvida: o importante é você marcar que o momento é importante ou mostrar para todo mundo que você marcou a importância do momento? Me parece que esse exagero em repassar a notícia pende para o mostrar que você está em dia e ciente, mais do que realmente parar para entender o que a tal notícia reflete em você e na sua vida…

Em segundo lugar, lendo o texto de Bondía, intitulado Notas sobre a experiência e o saber de experiência, encontrei alguém que explica tudo isso muito melhor do que eu poderia escrever nesse momento. Apresento alguns trechos para vocês:

Em primeiro lugar pelo excesso de informação: A informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência. Por isso a ênfase contemporânea na informação, em estar informados, e toda a retórica destinada a constituir- nos como sujeitos informantes e informados; a informação não faz outra coisa que cancelar nossas possibilidades de experiência. O sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação, o que mais o preocupa é não ter bastante informação; cada vez sabe mais, cada vez está melhor informado, porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber (mas saber não no sentido de “sabedoria”, mas no sentido de “estar informado”), o que consegue é que nada lhe aconteça. A primeira coisa que gostaria de dizer sobre a experiência é que é necessário separá-la da informação. (…) Como se o conhecimento se desse sob a forma de informação, e como se aprender não fosse outra coisa que não adquirir e processar informação.

 

Em segundo lugar, a experiência é cada vez mais rara por excesso de opinião. O sujeito moderno é um sujeito informado que, além disso, opina. É alguém que tem uma opinião supostamente pessoal e supostamente própria e, às vezes, supostamente crítica sobre tudo o que se passa, sobre tudo aquilo de que tem informação. Para nós, a opinião, como a informação, converteu-se em um imperativo. Em nossa arrogância, passamos a vida opinando sobre qualquer coisa sobre que nos sentimos informados. E se alguém não tem opinião, se não tem uma posição própria sobre o que se passa, se não tem um julgamento preparado sobre qualquer coisa que se lhe apresente, sente-se em falso, como se lhe faltasse algo essencial. E pensa que tem de ter uma opinião. Depois da informação, vem a opinião. No entanto, a obsessão pela opinião também anula nossas possibilidades de experiência, também faz com que nada nos aconteça.

 

Vamos agora ao sujeito da experiência. Esse sujeito que não é o sujeito da informação, da opinião, do trabalho, que não é o sujeito do saber, do julgar, do fazer, do poder, do querer. (…) o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponi- bilidade fundamental, como uma abertura essencial.


Então, a reflexão que deixo é a seguinte: Será que vivemos a experiência de tudo aquilo que falamos, ou nossas falas são meras repetições dos ditos dos outros? O que temos a dizer quando falamos, quando escrevemos um texto e quando repassamos informações?

It Gets Better

Muitos LGTB não conseguem imaginar suas vidas (adultas) como gays assumidos. Eles não conseguem imaginar um futuro diferente do que já vivem. Então, esse projeto tem como objetivo mostrar como é a vida de muitos gays, para mostrar que a vida pode ser boa e que o futuro pode ser melhor do que eles imaginam.

O projeto chamado It Gets Better começou com Dan Savage em Setembro de 2010, quando ele decidiu colocar no youtube um vídeo com seu namorado, levando esperança para pessoas que enfrentam preconceitos e seus próprios medos. Milhares de vídeos pessoais surgiram depois, e em dois meses o projeto já havia se transformado em um movimento mundial. Até hoje, milhares de pessoas contribuiram com vídeos pessoais no youtube, incluindo pessoas famosas como President Barack Obama, Hillary Clinton, Nancy Pelosi, Adam Lambert, Anne Hathaway, Colin Farrell, Matthew Morrison of “Glee”, Joe Jonas, Joel Madden, Ke$ha, Sarah Silverman, Tim Gunn, Ellen DeGeneres, Suze Orman, e também empresas como The Gap, Google, Facebook, Pixar, the Broadway community, e tantas outras.

Visite o site do projeto e saiba mais. www.itgetsbetter.org

Saiba mais sobre Dan Savage: Youtube

Enquanto isso, deixo vocês com o vídeo que eu mais gostei, o da Pixar. Entrem no youtube e assistam os outros.

 

A importância do circuito pulsional na prevenção precoce do autismo

Este texto* saiu da minha leitura do livro: “A voz da Sereia: o autismo e os impasses na constituição do sujeito” – Marie-Christine Laznik. Faz parte também do que estará presente na minha dissertação de Mestrado. Lá, investigo como se dá a constituição subjetiva de crianças com deficiência visual congênita.

(*não posso nem chamar de texto, seria mais um corte bem grosseiro, ainda.)

As pessoas sempre ficam buscando os culpados e as causas do autismo, depois que ele já está instalado. Outro dia falaram até mesmo da busca pela explicação genética. Laznik nos mostra que pode até ser possível encontrar causas orgânicas, mas questiona como isso pode mudar alguma coisa depois que a situação já está instalada. E mais, explica que biológico e psíquico não se opõem.

Laznik defende também a impossibilidade de determinar uma possível culpa, ainda que muitas pesquisas e autores sustentem muitas hipóteses que caminhem para esse sentido. Em geral se culpa a mãe, mas essa culpa em nada ajuda a entender e prevenir a instalação de um funcionamento autista.

Não é que uma mãe não vê que seu bebê não a olha, ou que lhe faltou o olhar fundador do Outro primordial. Os filmes familiares mostram o estado de petrificação em que suas mães se encontravam. (…) Um bebê que não responde, que não busca sua mãe, pode fazer com que ela acabe por cuidar dele de forma maquinal, como as enfermeiras em hospital. Hoje diria que certos bebês não se deixam enganar por nenhum apelo carinhoso, como se percebessem, cedo demais, a intrínseca ambivalência de todo amor.

Acredito cada vez menos numa depressão materna como fator central desencadeante do autismo (…) a fragilidade de tal bebê também deve ser levada em conta na desorganização que possa ter suscitado em sua mãe no tempo do pós-parto. A não resposta de um bebê pode desorganizar sua mãe.

A importância da voz já está presente, está em ação meses antes do nascimento propriamente dito. (…) A voz é primeira e comanda o olhar, e não o inverso. (…) Haveria no manhês, empregada por aquele que está em função do Outro primordial, uma dimensão irresistível, que até mesmo um futuro bebê autista não poderia deixar de responder. Isso pode ser algo que determina a alienação radical do pequeno homem ao desejo do Outro.

Do ponto de vista psicanalítico, o autismo pode ser considerado uma tradução clínica da não-instauração de um certo número de estruturas psíquicas que, por sua ausência, só podem acarretar déficits de tipo cognitivo, entre outros. Quando estes déficits se instalam de maneira irreversível, podemos falar de deficiência. Esta deficiência seria então a conseqüência de uma não instauração das estruturas psíquicas, e não o contrário. (…) É ai que podemos intervir, e que podemos falar de uma prevenção possível da instalação de um funcionamento autística. 

Fazer intervenção quer dizer intervir no laço pais-criança. A síndrome autista clássica, segunda Laznik, é uma conseqüência de uma falha no estabelecimento deste laço, sem o qual nenhum sujeito pode advir.

Privilegio a detecção de dois sinais maiores: inicialmente o não-olhar entre bebê e sua mãe, sobretudo se esta mãe não parece se dar conta disso; de outra parte o que eu chamo de fracasso do circuito pulsional completo.

O olhar do Outro primordial como constituitvo do eu e da imagem do corpo: o não olhar entre uma mãe e seu filho, sobretudo se a mãe não se apercebe disso, constitui um dos sinais que permitem pensar, durante os primeiros meses de vida, na hipótese de autismo – as estereotipias e automutilações só aparecem no segundo ano. Se este não-olhar mais tarde não evoluir para uma síndrome autista caracterizada, é sinal, em todo caso, de uma dificuldade maior no nível da relação especular com o outro. Sem uma intervenção nesse momento, o estádio do espelho não e constituirá, ou pelo menos não convenientemente. (…) Lacan (1936) nos fala da importância do estádio do espelho, momento em que a criança se vira para o adulto que a sustenta, que a carrega e pede-lhe confirmação, pelo olhar, do que ele percebe no espelho como uma assunção de uma imagem (…) é essa imagem que vai dar ao bebê seu sentimento de unidade, sua imagem corporal, base de seu relacionamento com os outros, seu semelhantes.

O que vem a se constituir para o bebê mais tarde a vivência do seu corpo, supõe uma articulação complexa entre sua realidade orgânica e o que eu chamo de olhar dos pais. Este olhar não se confunde com visão. Trata-se sobretudo de uma forma particular de investimento libidinal (…) uma ilusão antecipatória onde eles percebem o real orgânico do bebê, aureolado pelo que ai se representa, aí ele poderá advir. Mas o que chamo de olhar é também o que permite à mãe escutar de início nos balbucios do bebê, mensagens significantes que ele fará suas mais tarde. Ver e escutar o que ainda não está para que um dia possa advir.

Mas só o sinal desse não-olhar não basta por si para falar de um possível autismo. Há um segundo sinal, que Laznik chama de a não instauração do circuito pulsional completo. Mas para entender o que é isso, precisamos primeiro entender como funciona o conceito de pulsão para Freud. Pulsão não é necessidade. Para Lacan (1964), o que se refere a pulsão não é do registro do orgânico. Lacan (1964): a pulsão alcançando seu objeto, percebe de algum modo que não é por ai que ela se satisfaz (…), porque nenhum objeto (…) da necessidade pode satisfazer a pulsão (…).

 

Os três tempos pulsionais

Freud descreve o trajeto pulsional em três tempos. (…) Num primeiro tempo, que Freud chama de ativo, o bebê vai em busca do objeto oral (peito, mamadeira) para dele apoderar-se. Ele captura o peito, ela busca e se apossa do peito. Isso é fácil de ser visto por médicos nos exames clínicos.

O segundo tempo do circuito pulsional é também o objeto da atenção particular de um médico atento: ver se o bebê tem uma boa capacidade auto-erótica, se ele é capaz em particular de chupar sua mãe, seu dedo ou então uma chupeta. (…) Chamamos isso de experiência alucinatória de satisfação, intimamente ligada ao auto-erotismo.

O terceiro tempo do circuito pulsional chamamos de satisfação pulsional. Nele, a criança vai se fazer de objeto de um novo sujeito. (…) A criança se assujeita a um outro, que vai se tornar o sujeito da pulsão do bebê. Haveria ai, no nascimento mesmo da questão do sujeito no ser humano a forma radical de uma alienação. E como podemos verificar esse momento, que aliás, é o momento que escapa da avaliação clínica de medicos e muitos profissionais? É o momento em que o bebê coloca seu dedo (do pé ou da mão) na boa da mãe, que vai fingir comê-lo de maneira prazeirosa. Esse jogo que se coloca entre mãe-bebe não pretende saciar uma necessidade orgânica qualquer. É uma passividade aparente do bebê, que, na verdade, busca fisgar o gozo do Outro materno. Ele se faz comer pelo outro, ou seja, ele se faz objeto.

A pulsão não é necessidade (…) a pulsão se satisfaz pelo fato de que este circuito gira e de que cada um dos tempos tornará a passar um infinito número de vezes. Nós só podemos estar certos do caráter verdadeiramente pulsional dos dois primeiros tempos, na medida em que tivermos constatado o terceiro. Isso porque o segundo tempo pode enganar. Acontece de um bebê chupar chupeta ou o próprio dedo, mas não existir nada de auto-erótico nesses movimentos. Só podemos falar de um verdadeiro auto-erotismo se a dimensão de representação do Outro, e mesmo do seu gozo, se inscreveu sob a forma de traço mnêmico no aparelho psíquico da criança.

Nesse momento, pouco importa se a causa da não instauração deste terceiro tempo do circuito pulsional vem da dificuldade constituitva da criança que não procura ativamente o Outro, ou se o problema está na falta de resposta daquele que ocupa o lugar do Outro primordial. Há falhas nos dois casos. E é ai que entra o psicanalista, que pode perceber esse movimento relacional e a partir dai trabalhar com mãe-bebê, para que o circuito pulsional completo se estabeleça.

Podemos intervir no registro psíquico. É o que chamamos de prevenção possível.

Para finalizar, é importante destacar aqui a diferença entre psicose e autismo. Esse terceiro tempo pulsional de encontra sempre presente no bebê que apresentará mais tarde uma psicose infantil. Este bebê se assujeita facilmente a sua mãe (…) o problemático para ela é conhecer o limite deste gozo. (…) O que fracassa é sobretudo (…) a função separadora produzida pela metáfora paterna. (…) Em caso de perigo de evolução autística, não é disto que se trata, mas do fracasso no tempo da própria alienação.

 

Educação Olfativa para Deficientes Visuais

Dorina Nowill oferece Curso Gratuito de Avaliação Olfativa para Deficientes Visuais

O Curso Avaliação Olfativa para Deficientes Visuais é uma iniciativa da empresária Tânia Bulhões em parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos.

O objetivo é a capacitação profissional de pessoas cegas e com baixa visão para seleção e avaliação de fragrâncias e sua inclusão no mercado de trabalho. Podem se inscrever jovens, entre 18 e 28 anos, que já concluíram ou estão concluindo o ensino médio, que tenham independência de mobilidade e autonomia para participar das atividades propostas, e que não recebam nenhum tipo de assistência ou benefício do governo que o impeça de ingressar no mercado formal de trabalho.

O curso com 360 horas/aula será realizado em dois módulos. O primeiro, com duração de 1 ano, será dedicado ao ensino teórico e prático sobre os temas relacionados à perfumaria e ao mercado de trabalho. O segundo, com duração de 6 meses, será dedicado ao estágio em empresas para aprimorar as habilidades olfativas do aluno.

Inscrições gratuitas: empregabilidade@fundacaodorina.org.br ou pelo telefone (11) 5087-0959

Início da 1ª turma: agosto 2011
Local das aulas: Rua Doutor Diogo de Faria, nº 558, Vila Clementino – São Paulo (próximo ao Metrô Santa Cruz)

Programa do Curso:

INICIAÇÃO

TEMAS ABORDADOS

Universo do Olfato

  • O Sentido do olfato.
  • Iniciação ao mundo dos odores.
  • Aperfeiçoamento do sentido do olfato.

Perfumaria e linguagem Olfativa

  • Anatomia de um perfume.
  • Conhecimentos básicos e otimizados para o entendimento da linguagem da perfumaria

História da perfumaria e da arte

  • História da perfumaria e sua evolução da antiguidade aos dias de hoje
  • Noções de história da arte entrelaçadas ao universo da perfumaria.

APERFEIÇOAMENTO

TEMAS ABORDADOS

Ingredientes e Perfumes

  • Conhecimento dos ingredientes e seus respectivos grupos.
  • Relação dos ingredientes a conceitos, emoções e estilos.
  • Principais perfumes de cada grupo de ingredientes.

Famílias Olfativas

  • Conhecimento dos principais ingredientes de cada família olfativa.
  • Identificação das as principais criações de cada categoria

Vocabulário Olfativo

  • Principais termos utilizados em perfumaria, matérias primas e suas origens.
  • Construção de imagens através dos odores.

Arte da Perfumaria;

  • Iniciação ao mundo dos odores através de um método lúdico e pedagógico.
  • Conhecimento técnico dos ingredientes da perfumaria e suas funções

Avaliação sensorial

  • Avaliação e linguagem de expressão a respeito dos perfumes.
  • Aspectos sensoriais em relação a texturas e agradabilidade.

ESTAGIO

6 meses nas empresas contratantes

EMPREGABILIDADE

Preparação do deficiente visual para o mercado de trabalho abordando diversos aspectos

ATIVIDADES PARALELAS

Sessão do Filme
“O Perfume” com audiodescrição

  • Contextualizando o período histórico e métodos de extração.
  • Avaliação paralela dos odores que representam os diferentes capítulos do livro.

Visita externa

  • Museu do Perfume:  Espaço Perfume Arte & Historia

Visita externa

  • Viveiro Manequinho Lopes

Visita externa

  • Jardim Botânico

Visita externa

  • Ceasa

Visita externa

  • Mercado Municipal

Serviço:

Curso “Educação Olfativa para Deficientes Visuais”
Inscrições gratuitas:
empregabilidade@fundacaodorina.org.br | (11) 5087-0959
Data das inscrições: 25 de abril a 20 de maio
Divulgação dos selecionados: 10 de junho
Início da 1ª turma: agosto 2011
Local das aulas: Rua Doutor Diogo de Faria, nº 558, Vila Clementino – São Paulo (próximo ao Metrô Santa Cruz)

 

Maiores informações no site: http://www.fundacaodorina.org.br/

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