Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

Simbiose

A gente costuma escutar falar de simbiose quando trata da relação mãe-bebe. Nesse momento da vida de uma criança, a simbiose é necessária pra que ela se caracterize como sujeito. A mãe faz pelo bebe, sem que nem ele mesmo saiba o que quer ou precisa, tudo que é necessário no começo de sua vida, pra que, aos poucos, ele vá aprendendo a desejar, se tornar um sujeito desejante.

Só que a simbiose não esta somente presente nesse momento de nossas vidas. Por vezes se prolonga por mais tempo que o ideal e necessário. E por vezes nunca acontece. Nos casos em que se prolonga, podemos ver aquelas relações de mães e filhos no qual um não faz algo sem pensar no outro. A mãe esquece que tem marido, coloca sempre o filho em primeiro lugar de tudo, inclusive de si mesma. Em consequencia, o filho se torna tão dependente que não aprende a fazer nada por si, e para tudo se espelha e apoia na figura da mãe, e acaba tendo grandes consequencias no seu desenvolvimento e amadurecimento, principalmente na fase adulta. Em outros casos, na falta de uma simbiose inicial, fica a dificuldade de se tornar sujeito, de se caracterizar como um ser desejante, e fica evidente uma falta que existe em todos, mas se torna muito mais dificil sem o desejo inicial.

E depois que o sujeito chega na fase adulta? Em sua maioria, os dependentes continuam dependentes, principalmente hoje em que não é vergonha depender da mãe em qualquer idade. Ou mora com os pais infinitamente, mesmo quando já tem renda própria, relacionamento íntimo, carro e idade pra dar conta de si mesmo. Ou sai da casa dos pais, mas leva a ligação, mantendo a mãe para cuidar de sua casa, de suas roupas ou de sua marmita para o trabalho. Quando isso não é possível, cria-se uma nova simbiosa. A pessoa busca um alguém para substituir a mãe na relação. Esta a namorada, ou namorado entra para respirar o mesmo ar, pra estabalecer o mesmo tipo de relação que a anterior.

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Alguém consegue perceber como tudo isso é perturbador? Não parece uma doença essa dependência?

Dentro da relação simbiotica não existe um. São dois meios que fazem um, o que causa, no mínimo, alguns incomôdos. Sim, porque a relação sombiotica não é só alegria. Não há espaço pra respirar outro ar que não seja o mesmo. O diferente se torna um problema gigantesco, com proporções muito maiores do que o normal. Por isso nossos novos adultos sofrem tanto. Porque é uma geração fruto de muitas relações simbióticas. Viemos da geração pós orgulho feminista, ou seja, as mulheres largaram suas familias pra trabalhar e defender os direitos iguais, e muitas perceberam o quanto era bom ser so mãe. Essas, agarraram com unhas e dentes seus filhos, que hoje sofrem para ser adulto. E daqui só piora, porque com a desculpa dos perigos que av vida cada vez mais oferece, mais mães agarram suas crias com toda força em seus ventres. E mais simbioticos se tornam, e mais dificil fica se tornar sujeito desejante e, consequentemente, adulto.

Winnicot já dizia: boa mãe é a mae que falta. É necessário que a criança erre para aprender a aceitar. É preciso que a criança caia a primeira vez para que aprenda a se levantar. Se a mãe está sempre presente e não permite a falha, como essa criança vai aprender a se sustentar em sua próprias pernas? Se a mãe falha em falhar, o filho sofrerá sim grandes consequencias no seu desenvolvimento.

Into the wild. Este filme que tanto me chocou, e já mencionei em algum post anterior deste mês, mostra como uma pessoa precisa estar sozinha para aprender a ser humano. É sozinho que aprendemos as grandes coisas da vida. Quando vamos arranjar uma namoradinha, estamos a sós com ela. Quando vamos arranjar o primeiro emprego, a entrevista é só como chefe. Quando casamos, é só você e a esposa/marido no altar. É independente de simbioses que crescemos e desenvolvemos. Se passamos a vida substituindo nossas relações simbióticas, sofreremos por demais da conta. E quem passa por isso sabe bem do que estou falando.

O filme é o oposto ao exagero. Ele queria tanto ficar sozinho que exagerou na dose de sua solidão. E uso este exemplo porque nenhum dos extremos é bom. Estar sempre só e sem nenhuma necessidade de relacionamento também é doente, também causa danos irreversíveis ao sujeito. Mas em muitos momentos de nossas vidas, precisamos estar sozinhos, para aprender a caminhar com nossas próprias pernas, nos tornarmos UNO, para dai escolher quem caminhará ao nosso lado.

Todos devemos ser Unos e não Meios.

17 Comments

  1. Priscila Barreto

    Poxa, gostei bastante do texto… lembrei da ex pisico lá da creche quando vc citou Winnicot… no que depender de mim as minhas crianças (trabalho) e futuramente meus filhos caminharão assim como eu sem a dependência dos pais…um exemplo toda vez q me pedem para fazer algo/ ajudar pq eles não conseguem a minha primeira pergunta é : – Você já tentou? depois da rsposta eu volto a afirmação : – Se vc não tentar como vai saber se consegue ! È difícil , pq vejo q nem todas as educadoras agem assim na maioria das vezes estão sempre fazendo por eles….
    Mas sabia que em relação a relacionamento eu ainda me sinto metade, esperando sempre um pouco da outra parte…. ai que problema….

    bjo

  2. Priscila Barreto

    ah… e se a cça responder que já tentou, eu digo então vamos tentar de novo e eu posso te ajudar … mas assim ajudo no minimo dou alternativas para que ela consiga sozinha.

  3. Bel

    E sabe qual é o problema? Além de tudo isso, esses adultos dependentes arrastam os “unos” para relações meio a meio, sabe? Aí um belo dia, o uno percebe que perdeu uma parte de si, e joga tudo para o alto. Isso tem acontecido muito ao meu redor…

    Você não tem idéia da indentificação que tive com esse texto.

    Bjs!

  4. Si

    Boa noite Aline,

    Parabéns pelo artigo sobre simbiose! Gostaria de saber qual a referência utilizada, pois me interesso pelo tema e estou montando uma palestra sobre família , na qual vou passar por este assunto ao falar sobre função materna e paterna.

    Grata.

    • Aline Sieiro

      Simone,

      Obrigada pelo comentário. Escrevi esse texto já tem um tempinho, estou tentando transformá-lo em uma publicação. Aviso quando sair. Muitas pessoas me perguntam onde mais podem se informar sobre o tema e eu mesma não sei te informar, escrevi baseada nas minha muitas leituras e experiências clínicas.

      Abraços,

      Aline

  5. Nailyl

    Aline, quero parabenizar pelo artigo e principalmente agradecer por ter se dado ao trabalho de dividir com os outros. Sou Mae e percebo no meu filho de oito anos esse relacionamento comigo, essa simbiose pode ser por parte dele? Eu que causei? Será que Eu tb sou assim e não percebo? Pode parecer estranho mas acho que vc entende o que vou dizer: ME sinto sufocada.

    • Aline Sieiro

      Nailyl,

      Se você está sentindo uma preocupação ao perceber aspectos da relação de vocês dois (você e seu filho) que não parecem caminhar bem, porque não tenta procurar ajuda para conversar sobre tudo isso? Talvez, conversando com alguém, você possa entender um pouco mais do que acontece, e do porquê você se sente sufocada e percebe que tem algo de estranho entre vocês. Será que não valeria a pena conversar um pouco mais sobre isso, para tentar entender o que acontece?

  6. Vivian

    Boa tarde Aline! Parabéns pelo artigo, até agora foi a melhor definição que encontrei para a questão da símbiose. Eu ja venho lendo e conversando sobre o assunto a algum tempo, pelo fato de vivenciar isso em casa com minha mãe e meu irmão… No momento não é a questão deles que vem me preocupando até porque ele casou e saiu de casa e parece ter amenizado a situação.
    Estou namorando a quase dois anos e de uns tempos pra ca eu e meu namorado vem pensando em nos casar.
    Só que a interferencia da minha sogra sobre ele esta nos prejudicando .O pior é que vem tanto da parte dele quanto da parte dela, tanto ela depende dele para resolver problemas e questóes pessoais quanto ele depende dela, ou seja ela trata ele como filho e ao mesmo tempo acha que ele tem obrigações de marido talvez pelo fato dela ser separada e estar sozinha no momento. Talvez ela até perceba a situação da relação dela com ele e dele com ela mas pelo fato de eu ter entrado na vida dele e de estarmos planejando uma vida a dois talvez ela esteja com medo de perder o vinculo exagerado entre eles, ela não parece perceber o quanto isso esta prejudicando ele no seu desenvolvimento. Ele quer casar e continuar morando com a mãe, para”cuidar” dela, sendo que ela é nova, é bem resolvida financeramente, não tem nenhum problema de saude que a impeça de viver sem a ajuda dele até porque ela tem uma filha que mora com ela. Isso vem tirando o meu sono, não sei como tratar desse assunto com ele até porque ele se irrita e se sente ofendido. Eu não quero intereferir na relação deles de mãe e filho, eu só que quero que ele crie independencia e que aprenda a andar por si só. Só assim poderemos construir uma vida juntos. Não sei o que fazer pois gosto muito dele e não quero magoa-lo, mas não quero casar e sofrer consequencias dessa símbiose, pois sei que ira trazer serias consequencias na nossa e na minha vida, principalmente se tivermos morando todos juntos. Ele ja chegou até falar que ou é assim ou não é, que ele vai morar com a mãe e pronto.
    O que eu faço?

    • Aline Sieiro

      Vivian,

      Depois de ler um pouco do que você escreveu, posso imaginar que você tem mesmo muitas questões para serem trabalhadas e discutidas. Mas se você não consegue conversar sobre isso com seu marido, talvez fosse o momento de você tentar iniciar uma terapia sua mesmo, para saber qual o melhor caminho para você se ajeitar com tudo isso, e até quanto você consegue levar adiante por um relacionamento. Essa repetição que você conta, sobre como isso te preocupava em relação a sua família, e agora em relação a família do seu namorado pode ser um dica de que você também precisa conversar com alguém sobre tudo isso, com calma. O que você pensa disso?

      Por outro lado, talvez também seja interessante tentar o inicio de uma terapia de casal, para que vocês tenham ajuda e intermédio de um profissional nas discussões mais complicadas e importantes. Converse sobre essa possibilidade com eu namorado também. De qualquer maneira, não existe uma solução ideal para suas questões, não sem muitas conversas e discussões trabalhosas mesmo. As vezes é importante aproveitar o calor do momento para enfrentar questões difíceis.

      Espero ter ajudado de alguma maneira.

    • Tatá

      Vivian!! Parece que estou descrevendo a relação da minha sogra com meu namorado! E é por isto que estou aqui, lendo este post!! Desesperada atrás de uma explicação.. Chego a ter raiva da minha sogra por isto.. Faço psicanálise, que ajuda muito, mas o fato é q não sei até quando a gente agüenta.. Eles é quem deveriam se tratar!

      • Deyse

        Pessoal, vivo a mesma situação e não sei mais o que fazer. Tamb;em sinto raiva, fico triste, me sinto frustrada. Estou fazendo terapia e minha psicóloga disse que somos um triângulo amoroso, onde eles são uma casal e eu sou uma amante que invadiu a vida deles. Não sei mais o que fazer, tudo isso cansa muito.

  7. Leonardo Simões

    Olá Aline, boa tarde.
    Li seu artigo e gostei bastante, queria ler algo sobre simbíose para relembrar as aulas de Psicanálise na Universidade São Marcos em SP, estou no último ano de Psicologia e gostei muito da sua trajetória que é inspiradora.
    Até,

  8. Lenilda

    Boa noite, Aline

    Li o seu artigo e gostei bastante. Essa relação simbiótica tanto dificulta a vida do filho quanto da mãe. Tenho duas filhas já adultas e hoje eu vejo que nossa relação simbiótica é bem resolvida, pois elas são bem independentes, todas duas sabem se virarem sozinhas, resolvem seus próprios problemas, sempre passei pra elas que na vida a gente precisa tentar. E sempre eu digo pra elas “se precisarem podem contar comigo”, mas primeiro procurem tentar resolverem. Até agora tá dando certo. Obrigada .Abraços Lenilda

  9. Michele

    Aline,

    Você tem algum de e-mail de contato, pois tenho uma caso de simbiose para relatar mas é tão absurdo que me sinto constrangida de relatar aqui.

  10. Flôr

    Aline, gostei pacas do texto. Me explique uma coisa: sempre ouvi falar sobre a relação simbiótica entre mães e seus filhos/filhas, mas e quando isso acontece com o pai e o filho? Conheço uma família que está sofrendo um bocado por conta disso. O filho de 02 anos “tolera” a mãe, a professora, as colegas de sala e a irmã. Mas ele só quer saber do pai. A mãe tenta melhorar a relação com a criança, mas o filho parece querer sugar tudo do pai. O pai diz se sentir amado, mas sente-se sugado e às vezes pede para que a mãe divida os cuidados do filho. Mas o filho quando está na presença do pai a rejeita. É possível a relação simbiótica entre pai e filho? Obrigada.

  11. Josué Tercio Junior

    Minha irmã tem hj 57 anos e eu 59, ela foi cuidadora de minha mãe durante muitos anos, e se criou uma simbiose entre elas. Minha mãe faleceu a 4 anos e atualmente moro com ela, e infelizmente ela esta querendo transferir essa simbiose para mim, e estame fazendo muito mal ! Como me proteger disso sem ocorra atritos constantes ! Grato ( FELIZ NATAL) 25/12/1015

  12. regiane

    Preciso de ajuda e esclarecimento sobre essa relaçao simbiótica entre pai e filho

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