Associação Livre
Simbiose
A gente costuma escutar falar de simbiose quando trata da relação mãe-bebe. Nesse momento da vida de uma criança, a simbiose é necessária pra que ela se caracterize como sujeito. A mãe faz pelo bebe, sem que nem ele mesmo saiba o que quer ou precisa, tudo que é necessário no começo de sua vida, pra que, aos poucos, ele vá aprendendo a desejar, se tornar um sujeito desejante.
Só que a simbiose não esta somente presente nesse momento de nossas vidas. Por vezes se prolonga por mais tempo que o ideal e necessário. E por vezes nunca acontece. Nos casos em que se prolonga, podemos ver aquelas relações de mães e filhos no qual um não faz algo sem pensar no outro. A mãe esquece que tem marido, coloca sempre o filho em primeiro lugar de tudo, inclusive de si mesma. Em consequencia, o filho se torna tão dependente que não aprende a fazer nada por si, e para tudo se espelha e apoia na figura da mãe, e acaba tendo grandes consequencias no seu desenvolvimento e amadurecimento, principalmente na fase adulta. Em outros casos, na falta de uma simbiose inicial, fica a dificuldade de se tornar sujeito, de se caracterizar como um ser desejante, e fica evidente uma falta que existe em todos, mas se torna muito mais dificil sem o desejo inicial.
E depois que o sujeito chega na fase adulta? Em sua maioria, os dependentes continuam dependentes, principalmente hoje em que não é vergonha depender da mãe em qualquer idade. Ou mora com os pais infinitamente, mesmo quando já tem renda própria, relacionamento íntimo, carro e idade pra dar conta de si mesmo. Ou sai da casa dos pais, mas leva a ligação, mantendo a mãe para cuidar de sua casa, de suas roupas ou de sua marmita para o trabalho. Quando isso não é possível, cria-se uma nova simbiosa. A pessoa busca um alguém para substituir a mãe na relação. Esta a namorada, ou namorado entra para respirar o mesmo ar, pra estabalecer o mesmo tipo de relação que a anterior.
Alguém consegue perceber como tudo isso é perturbador? Não parece uma doença essa dependência?
Dentro da relação simbiotica não existe um. São dois meios que fazem um, o que causa, no mínimo, alguns incomôdos. Sim, porque a relação sombiotica não é só alegria. Não há espaço pra respirar outro ar que não seja o mesmo. O diferente se torna um problema gigantesco, com proporções muito maiores do que o normal. Por isso nossos novos adultos sofrem tanto. Porque é uma geração fruto de muitas relações simbióticas. Viemos da geração pós orgulho feminista, ou seja, as mulheres largaram suas familias pra trabalhar e defender os direitos iguais, e muitas perceberam o quanto era bom ser so mãe. Essas, agarraram com unhas e dentes seus filhos, que hoje sofrem para ser adulto. E daqui só piora, porque com a desculpa dos perigos que av vida cada vez mais oferece, mais mães agarram suas crias com toda força em seus ventres. E mais simbioticos se tornam, e mais dificil fica se tornar sujeito desejante e, consequentemente, adulto.
Winnicot já dizia: boa mãe é a mae que falta. É necessário que a criança erre para aprender a aceitar. É preciso que a criança caia a primeira vez para que aprenda a se levantar. Se a mãe está sempre presente e não permite a falha, como essa criança vai aprender a se sustentar em sua próprias pernas? Se a mãe falha em falhar, o filho sofrerá sim grandes consequencias no seu desenvolvimento.
…
Into the wild. Este filme que tanto me chocou, e já mencionei em algum post anterior deste mês, mostra como uma pessoa precisa estar sozinha para aprender a ser humano. É sozinho que aprendemos as grandes coisas da vida. Quando vamos arranjar uma namoradinha, estamos a sós com ela. Quando vamos arranjar o primeiro emprego, a entrevista é só como chefe. Quando casamos, é só você e a esposa/marido no altar. É independente de simbioses que crescemos e desenvolvemos. Se passamos a vida substituindo nossas relações simbióticas, sofreremos por demais da conta. E quem passa por isso sabe bem do que estou falando.
O filme é o oposto ao exagero. Ele queria tanto ficar sozinho que exagerou na dose de sua solidão. E uso este exemplo porque nenhum dos extremos é bom. Estar sempre só e sem nenhuma necessidade de relacionamento também é doente, também causa danos irreversíveis ao sujeito. Mas em muitos momentos de nossas vidas, precisamos estar sozinhos, para aprender a caminhar com nossas próprias pernas, nos tornarmos UNO, para dai escolher quem caminhará ao nosso lado.
Todos devemos ser Unos e não Meios.
fevereiro 27th, 2008 - 08:07
Poxa, gostei bastante do texto… lembrei da ex pisico lá da creche quando vc citou Winnicot… no que depender de mim as minhas crianças (trabalho) e futuramente meus filhos caminharão assim como eu sem a dependência dos pais…um exemplo toda vez q me pedem para fazer algo/ ajudar pq eles não conseguem a minha primeira pergunta é : – Você já tentou? depois da rsposta eu volto a afirmação : – Se vc não tentar como vai saber se consegue ! È difícil , pq vejo q nem todas as educadoras agem assim na maioria das vezes estão sempre fazendo por eles….
Mas sabia que em relação a relacionamento eu ainda me sinto metade, esperando sempre um pouco da outra parte…. ai que problema….
bjo
fevereiro 27th, 2008 - 08:09
ah… e se a cça responder que já tentou, eu digo então vamos tentar de novo e eu posso te ajudar … mas assim ajudo no minimo dou alternativas para que ela consiga sozinha.
fevereiro 27th, 2008 - 20:29
E sabe qual é o problema? Além de tudo isso, esses adultos dependentes arrastam os “unos” para relações meio a meio, sabe? Aí um belo dia, o uno percebe que perdeu uma parte de si, e joga tudo para o alto. Isso tem acontecido muito ao meu redor…
Você não tem idéia da indentificação que tive com esse texto.
Bjs!
junho 14th, 2011 - 23:42
Boa noite Aline,
Parabéns pelo artigo sobre simbiose! Gostaria de saber qual a referência utilizada, pois me interesso pelo tema e estou montando uma palestra sobre família , na qual vou passar por este assunto ao falar sobre função materna e paterna.
Grata.
junho 15th, 2011 - 22:42
Simone,
Obrigada pelo comentário. Escrevi esse texto já tem um tempinho, estou tentando transformá-lo em uma publicação. Aviso quando sair. Muitas pessoas me perguntam onde mais podem se informar sobre o tema e eu mesma não sei te informar, escrevi baseada nas minha muitas leituras e experiências clínicas.
Abraços,
Aline
setembro 2nd, 2011 - 17:43
Aline, quero parabenizar pelo artigo e principalmente agradecer por ter se dado ao trabalho de dividir com os outros. Sou Mae e percebo no meu filho de oito anos esse relacionamento comigo, essa simbiose pode ser por parte dele? Eu que causei? Será que Eu tb sou assim e não percebo? Pode parecer estranho mas acho que vc entende o que vou dizer: ME sinto sufocada.
setembro 15th, 2011 - 16:16
Nailyl,
Se você está sentindo uma preocupação ao perceber aspectos da relação de vocês dois (você e seu filho) que não parecem caminhar bem, porque não tenta procurar ajuda para conversar sobre tudo isso? Talvez, conversando com alguém, você possa entender um pouco mais do que acontece, e do porquê você se sente sufocada e percebe que tem algo de estranho entre vocês. Será que não valeria a pena conversar um pouco mais sobre isso, para tentar entender o que acontece?
janeiro 27th, 2012 - 17:03
Boa tarde Aline! Parabéns pelo artigo, até agora foi a melhor definição que encontrei para a questão da símbiose. Eu ja venho lendo e conversando sobre o assunto a algum tempo, pelo fato de vivenciar isso em casa com minha mãe e meu irmão… No momento não é a questão deles que vem me preocupando até porque ele casou e saiu de casa e parece ter amenizado a situação.
Estou namorando a quase dois anos e de uns tempos pra ca eu e meu namorado vem pensando em nos casar.
Só que a interferencia da minha sogra sobre ele esta nos prejudicando .O pior é que vem tanto da parte dele quanto da parte dela, tanto ela depende dele para resolver problemas e questóes pessoais quanto ele depende dela, ou seja ela trata ele como filho e ao mesmo tempo acha que ele tem obrigações de marido talvez pelo fato dela ser separada e estar sozinha no momento. Talvez ela até perceba a situação da relação dela com ele e dele com ela mas pelo fato de eu ter entrado na vida dele e de estarmos planejando uma vida a dois talvez ela esteja com medo de perder o vinculo exagerado entre eles, ela não parece perceber o quanto isso esta prejudicando ele no seu desenvolvimento. Ele quer casar e continuar morando com a mãe, para”cuidar” dela, sendo que ela é nova, é bem resolvida financeramente, não tem nenhum problema de saude que a impeça de viver sem a ajuda dele até porque ela tem uma filha que mora com ela. Isso vem tirando o meu sono, não sei como tratar desse assunto com ele até porque ele se irrita e se sente ofendido. Eu não quero intereferir na relação deles de mãe e filho, eu só que quero que ele crie independencia e que aprenda a andar por si só. Só assim poderemos construir uma vida juntos. Não sei o que fazer pois gosto muito dele e não quero magoa-lo, mas não quero casar e sofrer consequencias dessa símbiose, pois sei que ira trazer serias consequencias na nossa e na minha vida, principalmente se tivermos morando todos juntos. Ele ja chegou até falar que ou é assim ou não é, que ele vai morar com a mãe e pronto.
O que eu faço?
janeiro 29th, 2012 - 16:55
Vivian,
Depois de ler um pouco do que você escreveu, posso imaginar que você tem mesmo muitas questões para serem trabalhadas e discutidas. Mas se você não consegue conversar sobre isso com seu marido, talvez fosse o momento de você tentar iniciar uma terapia sua mesmo, para saber qual o melhor caminho para você se ajeitar com tudo isso, e até quanto você consegue levar adiante por um relacionamento. Essa repetição que você conta, sobre como isso te preocupava em relação a sua família, e agora em relação a família do seu namorado pode ser um dica de que você também precisa conversar com alguém sobre tudo isso, com calma. O que você pensa disso?
Por outro lado, talvez também seja interessante tentar o inicio de uma terapia de casal, para que vocês tenham ajuda e intermédio de um profissional nas discussões mais complicadas e importantes. Converse sobre essa possibilidade com eu namorado também. De qualquer maneira, não existe uma solução ideal para suas questões, não sem muitas conversas e discussões trabalhosas mesmo. As vezes é importante aproveitar o calor do momento para enfrentar questões difíceis.
Espero ter ajudado de alguma maneira.
julho 22nd, 2014 - 19:51
Vivian!! Parece que estou descrevendo a relação da minha sogra com meu namorado! E é por isto que estou aqui, lendo este post!! Desesperada atrás de uma explicação.. Chego a ter raiva da minha sogra por isto.. Faço psicanálise, que ajuda muito, mas o fato é q não sei até quando a gente agüenta.. Eles é quem deveriam se tratar!
agosto 14th, 2017 - 14:28
Pessoal, vivo a mesma situação e não sei mais o que fazer. Tamb;em sinto raiva, fico triste, me sinto frustrada. Estou fazendo terapia e minha psicóloga disse que somos um triângulo amoroso, onde eles são uma casal e eu sou uma amante que invadiu a vida deles. Não sei mais o que fazer, tudo isso cansa muito.
abril 28th, 2012 - 17:47
Olá Aline, boa tarde.
Li seu artigo e gostei bastante, queria ler algo sobre simbíose para relembrar as aulas de Psicanálise na Universidade São Marcos em SP, estou no último ano de Psicologia e gostei muito da sua trajetória que é inspiradora.
Até,
outubro 17th, 2012 - 23:12
Boa noite, Aline
Li o seu artigo e gostei bastante. Essa relação simbiótica tanto dificulta a vida do filho quanto da mãe. Tenho duas filhas já adultas e hoje eu vejo que nossa relação simbiótica é bem resolvida, pois elas são bem independentes, todas duas sabem se virarem sozinhas, resolvem seus próprios problemas, sempre passei pra elas que na vida a gente precisa tentar. E sempre eu digo pra elas “se precisarem podem contar comigo”, mas primeiro procurem tentar resolverem. Até agora tá dando certo. Obrigada .Abraços Lenilda
junho 3rd, 2013 - 14:56
Aline,
Você tem algum de e-mail de contato, pois tenho uma caso de simbiose para relatar mas é tão absurdo que me sinto constrangida de relatar aqui.
novembro 20th, 2013 - 20:06
Aline, gostei pacas do texto. Me explique uma coisa: sempre ouvi falar sobre a relação simbiótica entre mães e seus filhos/filhas, mas e quando isso acontece com o pai e o filho? Conheço uma família que está sofrendo um bocado por conta disso. O filho de 02 anos “tolera” a mãe, a professora, as colegas de sala e a irmã. Mas ele só quer saber do pai. A mãe tenta melhorar a relação com a criança, mas o filho parece querer sugar tudo do pai. O pai diz se sentir amado, mas sente-se sugado e às vezes pede para que a mãe divida os cuidados do filho. Mas o filho quando está na presença do pai a rejeita. É possível a relação simbiótica entre pai e filho? Obrigada.
dezembro 26th, 2015 - 18:24
Minha irmã tem hj 57 anos e eu 59, ela foi cuidadora de minha mãe durante muitos anos, e se criou uma simbiose entre elas. Minha mãe faleceu a 4 anos e atualmente moro com ela, e infelizmente ela esta querendo transferir essa simbiose para mim, e estame fazendo muito mal ! Como me proteger disso sem ocorra atritos constantes ! Grato ( FELIZ NATAL) 25/12/1015
novembro 7th, 2020 - 21:03
Preciso de ajuda e esclarecimento sobre essa relaçao simbiótica entre pai e filho