O desejo de encaixotar os sentimentos, a moral e a ética não é novo. E agora dá as caras nas embalagens de remédios que rodam na internet com palavras como Juízo, Desapego. Brincadeirinhas (ou chistes – como diria Freud), nos contam um pouco do desejo de uma sociedade que, em formato jocoso, mostra a cara.

 

Vivemos um momento em que, para todo problema mental, existe uma cura a partir de um remédio indicado. Assim, não é de se estranhar que queiram achar uma pílula que sirva para colocar juízo na cabecinha das pessoas. Mas, ainda bem que não chegamos a esse ponto. E me pergunto, até quando? Porque hoje é apenas uma questão de tempo para que a indústria farmacêutica produza novos sintomas, redefina situações que necessitem de um remédio, que claro, eles já tem em estoque nas farmácias.

Pra tudo hoje temos um transtorno associado – DSM tá ai para nos mostrar isso. E para cada um deles, tempos pelos menos três remédios de indústrias distintas. Tá com dor de cabeça? Remedinho pra vc. Tá com saudade de alguma coisa que nunca existiu? Remedinho para você? Seu amor faleceu ontem? Outro remedinho para voce.

A Psicanálise ainda sustenta que viver é estar o tempo todo fazendo laço, ou seja, criando sentido para o absurdo que é viver. Mas, como criar sentido se nos espaços em que isso se faz possível, há sempre um remedinho esperando por você? Os remedinhos alimentam essa ilusão social de que é preciso ser feliz vinte e quatro horas/sete dias por semana, e essa felicidade é um ideal possível. Até quando vamos desejar ser escravos de uma ditadura do gozo? Quando as pessoas terão coragem para desejar, com toda dor e com todo prazer associados?

“O doce não seria tão doce se não fosse pelo amargo”. (Filme Vanilla Sky)

A partir dos tropeços, dos “entre”, é que os sujeitos e seus desejos podem advir. Então, faço um apelo: parem de repassar informações sem conteúdo. Não sejam meros reprodutores dessas “brincadeirinhas” que ajudam a alimentar um idéia repressora da singularidade e do desejo. Não tenham juízo. Tenham ética: a ética do seu desejo, tão particular quanto ele pode ser.