Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

Categoria: Psicologia (Page 5 of 9)

Podcast Episódio 03 – Pesquisa Narrativa

Eu e a Prof. Dilma Mello conversamos sobre Pesquisa Narrativa, e comentamos um pouco as semelhanças com as noções de Subjetividade e Psicanálise. Falamos um pouco também sobre formação de professores.

Narrative Inquiry – Clandinin & Connelly

Indignação do dia

Acabei de ler isso, e não pude deixar de responder. As pessoas precisam ser um pouco mais profundas em suas supostas análises críticas.

Minha pequena resposta:

Pra criticar, é preciso saber muito do que se critica, porque senão corre-se o risco de falar muita bobagem em relação ao assunto. Bobagens escondidas em forma de uma suposta crítica.

Leia “Em defesa da Psicanálise – E. Roudinesco” e saiba porque os dois livros passaram longe de criticar a psicanálise, e sim criar um movimento anti-piscanálise. E querer falar de como a Psicanálise não está presente nos currículos no Estados Unidos, é querer insinuar que os Estados Unidos é determinante cultural e educacional para o resto do mundo, é no mínimo pequeno demais, pra não dizer irreal. Os Estados Unidos sempre foi modelo para tecnologia e farmacologia, mas o mesmo não se diz para a área da Educação. Não só no Brasil, mas em toda Europa e Canadá, entre outras, essas sim referência na Educação, continuam estudando a psicanálise, e seus efeitos continuam ecoando.

É triste perceber que ainda existem pessoas que acreditam na existência de uma verdade absoluta, que pode ser mensurada e provada por testes e experimentações. Não é a toa que o mundo farmacológico “cresce” criando pílulas para doenças que nem existem. Afinal, em tempos de capitalismo (modelo vendido pelos EUA), tudo se resume a produto e resultado, e para isso temos que tirar o direito do sujeito a ter “um inconsciente, pois precisa virar escravo de seus neurônios e de sua cognição, perdendo sua posição de sujeito e as possibilidades de escolha. É sempre viver anestesiado por remédios” (Roudinesco, 2010)

E, para esclarecer, a Psicanálise não quer e nunca quis ser essa ciência experimental e positivista. E as pessoas ainda se aproveitam da transparência de Freud nos seus trabalhos para recortar somente o que interessa para fazer parecer que as pesquisas nunca tiveram metodologia. Como eu falei logo no começo, até pra criticar precisamos entender um pouco do que estamos falando.

Podcast Edição Especial – Palestra Educação e Sexualidade

Esta semana ministrei uma palestra na Universidade Federal de Uberlândia, a convite do PET-Letras. Essa palestra foi gravada, e agora disponibilizo ela para todos que tiverem interesse no tema.

Abaixo colocarei os links de vídeos e textos que foram comentados durante a palestra, para que vocês possam acompanhar a discussão. Quem estava na palestra, e tiver interesse no apresentação em Power Point, me envie um email, ou deixe um comentário com seu email, que enviarei assim que possível.

Na palestra, com o título “Sexualidade na Sala de Aula: para além de um currículo biologizante”, discuti a noção de sexualidade, com base teórica da Psicanálise, e como podemos abordar o tema dentro de um meio escolar/acadêmico. Na primeira hora fiz essa introdução a noção de sexualidade proposta pela psicanálise, e como abordar o assunto de forma tranquila e cotidiana, mas também com uma proposta singular, no qual cada um é convidado a pensar e discutir suas próprias experiências com a sexualidade. No segundo momento, algumas perguntas foram feitas, e abri um diálogo com os presentes para discutí-las.

Trechos de filmes discutidos:

Kinsey – Vamos falar de Sexo

Me and you and everyone we know – Eu, você e todos nós

Referências de Pesquisas e Livros:

S. Freud – Três Ensaios sobre a teoria da Sexualidade

J. Lacan – Seminário 20 – Mais ainda

E. Roudinesco – Em defesa da Psicanálise

L. Garcia-Roza – Freud e o Inconsciente

N. Novena – A sexualidade na organização escolar

A. Morgado – Jovens, sexualidade e educação: homossexualidade no espaço escolar

Algumas Indicação de filmes e leitura:

Sexualidade começa na infância – Maria C. P. da Silva

Corpo, Gênero e Sexualidade: para além de educar meninos e meninas

C.R.A.Z.Y

Hounddog

Le Petit Nicolas

Savage Grace

Kids

Skins (Série de Tv)

Tell me you love me (Série de Tv)

Sexualidade na sala de aula: para além de um currículo biologizante

Sexualidade na sala de aula: para além de um currículo biologizante

Aline Accioly Sieiro

Psicóloga e Psicanalista

A sexualidade e suas manifestações sempre obedeceram a regras, rituais e cerimônias. Mas, por que algo tão essencialmente humano como a sexualidade foi interditada, impedida, normatizada e controlada? Especificamente, na organização escolar, por que as manifestações da sexualidade são percebidas de maneira perturbadora e aterrorizadora, a ponto de requererem uma intervenção através da repressão, com vistas a domesticar o desejo? Esta apresentação tem como objetivo discutir essas questões considerando sua complexidade no espaço da escola/sala de aula. Toda a discussão proposta tem como base os fundamentos da Psicanálise sobre inconsciente  e desejo, conforme Freud (1905) e Lacan (1980-1985).


Dia 27 de abril, das 15 às 17h, no bloco 3 Q, sala a confirmar.

Inscrições no Pet/Letras

Universidade Federal de Uberlândia

petletrasdaufu@gmail.com

Um outro olhar para a pedofilia

Tudo que se fala nesse momento é sobre a pedofilia e os padres da igreja católica. E eu (assim como Calligaris e Eliane Brum), ainda acho que  o foco está sempre errado quando se trata to assunto.

Escutei essa semana que deviam cortar o pênis de quem era pedófilo, só assim para resolver a questão. Se engana quem pensa que isso resolveria, porque, entre tantas outras coisas, a pedofilia não está ligada ao órgão sexual.

Mas hoje li dois textos que conseguem sintetizar tudo que eu penso e sempre pensei sobre a pedofilia. Por isso compartilho aqui com vocês. E abro o espaço para discussão, já que esse assunto nunca é fácil de discutir.

O primeiro deles é do Contardo Calligaris, psicanalista. (Para ler o texto inteiro, clique no trecho abaixo)

“Fantasias e orientações sexuais nunca são o efeito de acumulação de energia sexual insatisfeita. Um pedófilo poderá, eventualmente, desejar uma mulher e casar com ela, mas o fato de cumprir, mesmo com afinco, o dever conjugal não o livrará das fantasias pedofílicas. Teremos, simplesmente, pedófilos casados, em vez de solteiros.”

O segundo é da jornalista Elaine Brum. (Para ler o texto inteiro, clique no trecho abaixo)

“Encontrei abusadores despedaçados pelo que tinham feito – e pelo que tinham vontade de continuar fazendo. Fora a cadeia, não havia nada para impedi-los de seguir abusando. E alguns deles queriam ser impedidos. A prisão impede de abusar, mas sem ajuda e tratamento, é muito difícil não reincidir quando saem dela. Se a estrutura de assistência às vítimas de abuso sexual é precária, para abusadores ela é quase nula. 

É bem difícil olhar com compaixão para um homem ou mulher que usou de sua autoridade e poder para abusar sexualmente de uma criança. E gozou exatamente deste poder total sobre a vítima, inteiramente submetida ao seu desejo. Mas acho que precisamos tentar. Lembro de ter ficado em conflito com meus sentimentos. Porque nos casos em que foi possível, eu escutava a dor de ambos – da vítima e de quem a violou. Em alguns casos, ambos sofriam de forma atroz. Não se trata de relativizar a responsabilidade de quem abusa. Estou apenas apontando que pode existir sofrimento neste percurso – e não apenas bestialidade, ainda que a bestialidade seja sempre humana.”

Update: Uma entrevista da Eliana Brum fez com a socióloga Regina Soares, sobre o abuso de padres com mulheres.

“Essa idéia de que o padre é imune ao desejo é muito forte. A Igreja faz a negação da sexualidade.”

Update 2: E depois de tanta bobagem que a igreja faz, tem mais. Agora eles dizem que a pedofilia é relacionada a homossexualidade. Que ótimo saber que eles só caminham pro lado errado.

A Educação e o Discurso Motivacional

Depois de alguns anos mergulhada no mundo da Psicanálise, decidi fazer uma pós em Psicopedagogia. Meu namoro com a Educação vem de longe, e decidi que era hora de colocar os pés nessa área (oficialmente, porque eu já vinha fazendo algumas coisinhas por lá). Qual não foi minha surpresa por perceber, no contato com educadores e pedagogos, que a educação está tomada pelo discurso motivacional.

Você ai, que acha o discurso motivacional legal, e perde seu dias vendo vídeos no Yotube ou mandando mensagens em Power Point sobre o assunto: é hora de pensar criticamente, por isso te proponho essa leitura.

Muito se fala sobre a crise da educação, e pelo que parece, a educação sempre esteve em crise. Da fala dos professores, o que se escuta é um discurso ora de vítima, ora de nostalgia. E as reclamações que escutamos são:

– O professor perdeu seu lugar de autoridade. Antes o aluno tinha medo e respeitava. Agora trata o professor como um igual.

– A sociedade capitalista mudou o modo como as crianças vêem o mundo, e com isso ninguém mais quer saber de estudar, ficar sentado numa sala, tudo que eles querem é computador, internet, tecnologia.

– A família não é mais tradicional, se desestruturou, os pais estão perdidos, não sabem impor regras, negociam com filho a ida pra escola em troca de compensações e presentes.

– O Estado não garante a escola os recursos que ela necessita para o dia a dia escolar. Paga mal os professores, que ficam desmotivados, e cada vez menos querem melhorar seus trabalho.

Com tudo isso acontecendo, os professores, perdidos no meio desse tiroteio, começaram a se apegar com unhas e dentes naquilo que eles tinham acesso mais facilmente: o discurso motivacional.

A prática do discurso motivacional ficou famosa em grandes empresas, e ainda é o lugar onde reina soberana. Na busca de aumentar a produção, grandes empresários criaram áreas de recursos humanos, dentro de suas empresas, preocupadas em garantir o bem estar de seus funcionários, pois, com estes felizes e motivados, os lucros e a produção da empresa estavam muito bem garantidos. O objetivo do discurso motivacional era enfatizar que as dificuldades sempre estão presentes, mas temos que focar é no trabalho, pois o trabalho nos eleva e nos faz pessoas melhores.

Aos poucos esse discurso foi saindo das empresas, e, caminhando junto com a auto-ajuda, foi ganhando espaço nas livrarias, nas grandes mídias e na internet. Muitos cursos foram criados, especialmente o de imersão: as pessoas passam um final de semana, que segundo elas é inesquecível e capaz de mudar todo o rumo de suas vidas. Lá elas falam coisas que nunca pensaram, choram, fazem amigos pra toda vida. E aquilo dura alguns meses, que é o momento de refazer o curso e levar amigos juntos. Alias, outra coisa importante do discurso motivacional e que ele precisa sempre de reciclagem. De tempos em tempos você tem que refazer os cursos, assistir novamente as palestras, escutar de novo os vídeos na internet, para se lembrar o que é importante na vida: o amor ao próximo, o trabalho esforçado, o perdão e a esperança, para que você se torne um ser humano elevado.

Mas o que está por trás desse discurso? Qual são seus objetivos? O que há de concreto nessa proposta, que faz tantas pessoas acreditarem que a solução de tudo está ai?

Em seu texto intitulado “Motivação Profissional x Desmonte da Educação”, Alexandre Reinaldo aborda o discurso motivacional para falar da escola e da educação. No texto, ele diz que a escola está sendo tratada como uma empresa, que precisa gerar lucros, que tem metas a serem cumpridas, que passa por avaliação de qualidade, e passou a ser uma máquina tal como acontecem nas fábricas e industrias. Dessa forma, ao professor é prometido bonificações caso seu trabalho tenha lucro, e há uma preocupação para que esse professor seja motivado (para produzir mais). “ É a implantação do taylorismo/toyotismo na escola pública. Este é um aspecto fundamental da ideologia empresarial da Secretaria de Educação, pois como convencer professores e funcionários a trabalharem em péssimas condições e ganhando baixos salários?”

“A linha da motivaçào é um dos caminhos para tentar domesticar o cérebro. É aquele papo: “Procure dentro de você as forças para vencer os problemas”. Entretanto, quem consegue vencer as dívidas com os baixos salários?”

O discurso motivacional faz tanto sucesso, porque o que ele faz é mascarar a realidade, fazendo com que a pessoa produza mais, compre mais e pense menos. É como uma droga, que te deixa embriagado de otimismo e bons pensamentos, enquanto os problemas continuam no mesmo lugar que estavam antes, sem solução. Tudo o que você precisa pensar que é haverá um lugar bom para os que são elevados e esperançosos, e assim os problemas se resolverão sozinhos. E como eles não se resolvem, o efeito da droga passa, e ai você tem que se reciclar, ou seja, fazer novamente uso das drogas (em forma de cursos, eventos, palestras, livros e vídeos) para continuar vivendo.

Estamos mergulhados nessa dinâmica social, em todos os lugares, não só na escola. O olhar está voltado para a produtividade, o desejo de resultados positivos, e tudo isso suga muito a energia das pessoas. Por isso, motivar se tornou um sinônimo de droga psicológica, no qual as pessoas buscam se sentir entusiasmadas por algo, buscam se sentir soldados em uma guerra, guerra em que elas são resistentes, mas uma resistência que está embasada na crença de o que ela faz é importante para a máquina, para a sociedade como um todo.

Essas correntes passam e seguem em frente, e quem tenta pensar e refletir criticamente sobre o tema é visto, em geral, como pessimista. Mas, não bastam discursos demagógicos, pois só isso não resolve problemas. Eles continuam lá, todos os dias. Se o profissional não se sente motivado, ele deveria se questionar o por que disso, e não achar que é culpado sozinho por tal desmotivação, mascarando o problema com injeções de motivação. Se estou desmotivado, devo refletir sobre minha prática, tentar encontrar quais problemas estou enfrentando, e como posso de fato mudar alguma coisa. E fazer isso não necessariamente trará a tão sonhada felicidade seu lugar ao sol. Tentar encontrar em qual ponto também somos responsáveis não é o que as pessoas querem fazer quando as coisas já não estão boas.

Aliás, o discurso motivacional em muito se assemelha a uma religião, pois pede que você continue trabalhando e se esforçando o quanto puder, que um dia seu lugar estará garantido no céu. Não vou entrar agora na discussão da alienação que esse discurso oferece, assim como o religioso, mas podemos pensar sobre isso em outro texto.

Educar as vezes pode ser insuportável. Afinal, o que é educar nos dias de hoje? Será que todos os problemas que temos quando tentamos educar não estão centrados exatamente no que é  educação hoje?

Se não sabemos o que é Educar hoje, podemos começar pelo que não é, para tentar encontrar um caminho. Educar não é mais passar conteúdo. Não é mais impor medo, e assim conseguir um falso respeito. Não é fazer o aluno ficar 10, 12 anos sentado numa cadeira sem participar, só como ouvinte. Ainda temos muito que discutir sobre o que é Educar,  proponho discutir isso em outro texto, porque o que quero enfatizar aqui é que, enquanto estamos embriagados pelo discurso motivacional, não paramos para encarar os problemas. Não paramos para perceber que não existe solução mágica e fácil.

Enquanto você assiste vídeos como esse: …

… você não percebe que é encoleirado, que não desenvolve consciência crítica e independência. Pensar hoje pode ser muito periogo para as empresas e para o Estado. Mas, pode ser muito mais perigoso pra você mesmo. Ou não.

Enquanto você assiste vídeos como esse e chora …

… acha que está errado em sofrer e querer brigar pelo seu salário, seus altos impostos, e todas as coisas erradas que existem a sua volta. Afinal, já que tem gente pior do que você, parece até errado querer mudar alguma coisa tão pequena por aqui enquanto por lá as pessoas tem problemas tão maiores. Não é isso que querem te fazer pensar? Ou melhor, não é isso que você quer usar como desculpa para não ter que fazer nada?

A educação, quando toma o caminho do discurso motivacional, afunda um pouco mais, a cada dia. Se você é educador, tente fazer essa reflexão. O que o discurso motivacional tem te impedido de pensar? O que te faz ter medo de voltar o olhar pra você? ‘>O que é educar pra você? Será que o problema da educação é culpa só do Estado e da família, ou é conseqüência de outra coisa?

Update: Nem tudo que reluz é ouro na estante de Psicologia, um ótimo post sobre a Autoajuda, que caminha de mãos dadas com o discurso motivacional).

Indicação de Leitura

Ando com muitas idéias, mas ainda não consegui parar para colocá-las no papel. Porém, tenho lido muito. E aqui vai uma indicação de leitura. O texto é da Eliane Brum, que escreve para a Revista Época. No texto ela fala dos adultos de hoje, que não passam de crianças grandes. Contratam pessoas para fazer o que eles não querem: escolhas. Com isso não assumem responsabilidade, e não conseguem educar seus próprios filhos. Para ser pai, é preciso, primeiro, sair da posição de filho.

“Se não conseguimos crescer, como será possível educar os filhos?

(…) Me parece que hoje há algo novo nesse cenário. A partir do século XXI, vivemos a era dos adultos infantilizados. Uma espécie de infância permanente do indivíduo. Não é por acaso que os coaches proliferam.Coach, em inglês, significa treinador. Originalmente, treinador de times e de esportistas. Mas que foi ampliada para treinador de tudo, inclusive de como viver: os life coaches. Personal trainers têm função semelhante. Treinar alguém para se exercitar, comer, se vestir, namorar, conseguir amigos e emprego, lidar com conflitos matrimoniais e profissionais, arrumar as finanças e também organizar os armários e a mesa de trabalho, como na sugestão do meu amigo. (…)

Ao nos reduzirmos a adultos que precisam de babás por total incapacidade de lidar com qualquer aspecto da vida, do sentimental ao profissional, a que renunciamos? A muito. Mas o principal é que renunciamos à responsabilidade. A construção contemporânea de infância está fundamentada no conceito de que, tanto no estatuto social quanto no jurídico, crianças são seres com direito à proteção e à educação – mas sem responsabilidade pelos seus atos. Crescer, tornar-se adulto, é justamente passar a responsabilizar-se pelos seus atos. Mas, no caso das novas gerações de 20, 30, 40 anos, se isso ainda vale para o estatuto jurídico, parece perder força no estatuto social.

Os adultos desse início de milênio parecem prolongar a infância no sentido da não-responsabilização. São sinais, aqui e ali, de uma transformação na forma de ver a si mesmo – e de ser visto. É corriqueiro testemunhar, seja no bar ou na empresa, gente que fica muito surpresa porque seus atos motivaram uma reação indesejável, uma conseqüência pela qual precisam responder. Nesse momento, vemos adultos com cara de surpresa, olhos arregalados como os de uma criança. Parecem pensar: “Mas por que eu, que sou tão bacana, tão inteligente, tão cool?”. Quando podem, chamam os pais, os advogados…. os coaches para salvá-los. A expectativa, como um direito adquirido, é a de que sempre serão “perdoados”.

Da mesma maneira, encarnam a geração do “eu mereço”. Se não há responsabilidade pelos seus atos, também não há responsabilidade pelas suas conquistas. Está cada vez mais diluída a ideia de trabalhar por aquilo que se quer com a consciência de que custa tempo, esforço, dedicação. Escolhas e também perdas, frustrações. Alcançar sonhos, ideais ou mesmo objetivos parece ser compreendido como uma consequência natural do próprio existir, de preferência imediata. É uma espécie de visão contemporânea da ideia mística de destino, de predestinação. Ou apenas uma questão de usar a estratégia certa. E, para nos ensinar a traçá-la, buscamos um business coach.

O “eu mereço” vem a priori. “Eu mereço porque eu sou eu”. Ou: “Eu existo, logo mereço”. O fazer por merecer foi eliminado da equação. Quando essa crença, tão fundamentalista quanto os preceitos de algumas religiões, fracassa, aí é hora de buscar o happiness coach (treinador de felicidade), o dating coach (treinador de relacionamentos amorosos), o health coach (treinador de saúde), o conflict coach (treinador de conflitos matrimoniais e profissionais), o diet coach (treinador de alimentação saudável). O life coach. É estarrecedor verificar como as gerações que estão aí – e as que estão vindo – parecem não perceber que a vida é dura e dá trabalho conquistar o que se deseja. E, mesmo que se esforcem muito, haverá sempre o que não foi possível alcançar.

(…) Para além das boas hipóteses das muitas teses e debates sobre o fenômeno da infância insuportável, me parece que vale a pena pensar sobre quem são os pais dessas crianças. Se os pais são adultos infantilizados, que não conseguem se responsabilizar pelas suas vidas – e muitos nem acham que precisam… –, como esperar que suas crianças se responsabilizem? Como esperar que os pais sejam pais se continuam sendo filhos?

Esses pais continuam sendo filhos ao não responsabilizarem-se pelas suas vidas. Ao permitir que seus filhos façam o que bem entendem, não só dentro de casa, mas no espaço público, estão escolhendo o que dá menos trabalho. Sim, porque educar, botar limites, se importar, dá muito trabalho. E exige tempo, gasto de energia, esforço. Amor. O mais fácil é deixar para lá. Ou bater a porta da rua e deixar que a babá – a de seus filhos – se vire. Mas há algo mais.

Me parece que a permissividade com os filhos é uma permissividade consigo mesmo. Se os filhos encarnam o ideal dos pais, se neles estão colocados os desejos e as melhores esperanças dos pais, não seria de esperar que o ideal de pais infantilizados seja o de que os filhos possam tudo? Bem ou mal, ainda que andem pelo mundo como se não tivessem responsabilidade nem por si mesmos nem pelos destinos do planeta, em alguma medida esses adultos precisam lidar com as consequências de seus atos – ou não-atos.

É de se esperar que, para os filhos, desejem, consciente ou inconscientemente, que possam fazer tudo sem nenhuma espécie de retaliação. Aos filhos, tudo deve ser permitido. Algo como: “se para mim não está sendo assim, que pelo menos seja para os meus filhos”. Um ideal tão óbvio como é o desejo que os filhos se formem na universidade para os pais que não puderam estudar ou que o filho tenha casa própria para os pais que viveram a vida inteira de aluguel.”

(Para ler o texto inteiro, clique aqui.)

A inclusão e nossos limites pessoais

As pessoas têm seus limites. Acredito que elas fazem o que podem, diante das situações, e por isso sempre fazem o seu melhor. O melhor delas pode não ser o que se espera que façam, mas isso não siginifica que não estão se esforçando. Analisar as ações do outro baseados na nossa realidade e no nosso pré-julgamento não adianta nada nesses casos. O nosso máximo esforço pode ser muito diferente do máximo esforço do outro, e ao nossos olhos pode parecer que os outros não se esforçam. Mas isso é sempre um engano. As pessoas sempre dão o melhor de si, mas o melhor de cada um é sempre muito diferente.

Quando lidamos com criancas com deficiências, rapidamente entramos em contato com os nossos limites, e nossa habilidade de julgar o outro baseado na nossa realidade. E por isso que a inclusão é tão dificil, e por isso tem sido tão falha. Como podemos entender a realidade do deficiente visual, quando enxergamos perfeitamente? Como podemos entender as dificuldades diárias, nas atividades do dia-a-dia, nas atividades escolares, quando nossa vida é completamente diferente?

Alguns profissionais desenvolveram cursos e materiais que possibilitam uma espécie de vivência. Os pais, professores e interessados passam o dia com olhos vendados ou com um óculos que simula a forma como eles enxergam. Se colocarmos no papel o número de interessados em fazer esse curso, em relação as pessas que trabalham com educação e deficiência visual, o número desanima. A verdade é que nem todos estão dispostos a sair de seus confortáveis lugares e passar um dia que seja vivendo a realidade de outro, e suas dificuldades. Isso tudo mexe muito na psiquê de cada um, e nem todos aguentam o tranco.

Tudo isso nos faz voltar ao início de tudo, que é, cada um faz o que pode, cada um faz o seu melhor, mas não necessariamente esse melhor é o melhor para o outro. As minorias têm que se adequar a todo um mundo diferente e muito mais difícil do que a realidade delas.

A inclusão não funciona, porque ela não é só externa. Não é só a forma como o professor age com o aluno, como a escola disponibiliza ou não material didático para os alunos. A inclusão começa dentro de cada um. E isso não é fácil pra ninguém. Abandonar concepções que muitas vezez acompanham a pessoa por toda uma vida não é nada fácil, quando se tem tantas certezas, e poucas dúvidas, questionar parece muito dolorido e desnecessário.

Para incluir, temos que julgar menos, temos que sair da nossa zona de conforto, sofrer um pouco, questionar mais, se colocar mais no lugar do outro, mas não partindo da nossa realidade, e sim partindo da realidade do outro. Quando fazemos esse movimento, não obtemos muitas respostas, mas construimos mais perguntas, e assim começamos vagarosamente a mudar algo dentro de nós mesmos. Essa é a pequena semente, do começo de um processo que poderá se tornar inclusivo.

Utópico? Na realidade social de hoje parece que sim. Mas quando olhamos o trabalho de centenas de pessoas que lidam com a questão da inclusao por paixão (ou necessidade), ai percebemos que nada é impossível quando se quer. O duro é querer. E ainda não temos a capacidade de fazer o outro desejar os nossos desejos. E isso também não nos dá direito de julgá-lo. Só nos coloca numa posição delicada. Ter empatia é muito difícil, super delicado, e por vezes frustante, porque não tem nada a ver com justiça.

Tenham em mente: incluir não é só encher a escola de materiais novos. também não é somente aumentar letras e disponilibizar livros em braile. Não se trata de empurrar para frente o aluno deficiente, no sentido de fazer menos para que ele passe mais fácil. O aluno deficiente visual é tão inteligente quanto qualquer outro aluno, só precisa de uma outra realidade para se desenvolver. A inclusão começa quando nos interessamos em descobrir quais são as diferenças do outro, como eles lidam com isso, e se tenho interesse em ser algum tipo de facilitador para seu processo de aprendizagem/desenvolvimento.

A casa dos mortos

Assisti esse vídeo pelo blog Psicologia dos Psicólogos, e me sinto na obrigação de passar adiante.

O Filme

Bubu é um poeta com doze internações em manicômios judiciários. Ele desafia o sentido dos hospitais-presídios, instituições híbridas que sentenciam a loucura à prisão perpétua. O poema A Casa dos Mortos foi escrito durante as filmagens do documentário e desvelou as mortes esquecidas dos manicômios judiciários. São três histórias em três atos de morte. Jaime, Antônio e Almerindo são homens anônimos, considerados perigosos para a vida social, cujo castigo será a tragédia do suicídio, o ciclo interminável de internações, ou a sobrevivência em prisão perpétua nas casas dos mortos. Bubu é o narrador de sua própria vida, mas também de seu destino de morte.

Indicação de Leitura

Da sexualização das meninas

“.: Há este livro chamado Senhorita Else, escrito por Arthur Schnitzler e publicado em 1924. Não é um romance, exatamente, pois sua forma condensada o aproxima mais da novela. Trata-se de um relato, em primeira pessoa, de uma jovem, Else, que está numa espécie de hotel (ou colônia de férias, já não me lembro dos detalhes), onde se reúne a alta burguesia austríaca, e recebe uma carta de seus pais com um pedido e algumas instruções. Seu pai está falido e precisa de dinheiro, e cabe a ela recorrer a um homem rico, conhecido de seu pai. Else obedece, procura o homem, e ele impõe uma condição: que ela se mostre nua para ele. Estou prestes a contar o final: ela aceita, porque se vê completamente sem saída, com o futuro da família nas mãos, e entre o êxtase, a raiva, o desespero, ela vai salão de festas, onde estão todos – inclusive seu "salvador" – , vestida apenas com um casaco de peles, e despe-se. Escândalo, susto, horror…”

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