Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

Tag: machismo

As mulheres médicas em 1907

Na reunião de 15 de maio de 1907, os primeiros psicanalistas discutiram sobre o artigo de Wittels intitulado “As mulheres médicas”. Eu falei sobre Wittels no meu último texto sobre as atas, estão lembrados? Wittels era um jovem curioso, na falta de outro adjetivo mais preciso.

Fritz Wittels entrou para as reuniões de Psicanálise das quartas-feiras a partir de um interesse pela psicanálise freudiana. Participou durante um ano e começou a atender em seu consultório particular. Não muito tempo depois, por não ter sucedido nessa empreitada, em 1910, foi trabalhar em um sanatório particular e trabalhou durante 15 anos como médico em uma ala psiquiátrica. Nessa mesma época, escrevia muitos romances e os publicava. Em 1919 ele enfrentou uma análise didática e em seguida publicou uma espécie de biografia de Freud, que não ficou satisfeito e pediu correções. Em 1927 foi admitido na IPA. Em 1932 se mudou para os Estados Unidos e passou a fazer parte da Sociedade Americana de Psicanálise. Republicou a biografia corrigida de Freud e passou também a escrever vários textos sobre a técnica psicanalítica. Freud não gostou da republicação da biografia e por vezes acreditava em um certo oportunismo do seu colega de psicanálise.

Enfim, esse jovem Wittels, entre 1907 e 1908, apresentava textos nas reuniões de quarta-feira, textos no mínimo duvidosos. Em geral sobre as mulheres e o lugar das mulheres na sociedade. Ele levava a sério “o chamado da menstruação”, e quase todos os seus textos da época eram em torno dessa hipótese e as consequências dessas “traições” por parte das mulheres que não aceitavam seu chamado. Na reunião de 15 de maio, Wittels falava sobre as mulheres médicas. Na época, as primeiras turmas no curso de medicina haviam aceitado mulheres como estudantes e Wittels defendia, no artigo que apresentou ao grupo de analistas, que profissão de mulheres era a pedagogia. Para ele, a mulher que escolhia pela medicina era histérica e fazia isso por sua capacidade de ser imoral sem culpa, desenvolvendo um bom desempenho como estudante de medicina. Segundo seu texto, a ideia da existência de mulheres médicas era um absurdo, pois uma mulher jamais entenderia os mistérios de um homem e jamais teria condições de assumir cargos na saúde pública, já que sempre abusaria de sua posição em benefício próprio. Wittels concluiu seu texto afirmando que o desejo pelo estudo da medicina era apenas um sintoma de histeria, uma supressão do verdadeiro desejo de uma mulher.

Federn, o primeiro a comentar sobre o texto, diz que Wittels cometo o erro de acreditar que apenas as mulheres seriam capazes de perverter a função da medicina. Ele lembra que muitos homens já usavam suas posições como médico para abusar de pacientes mulheres e que a perversão não é uma característica específica do feminino.

Graf diz a Wittels que ele apenas está com raiva das mulheres que preferem estudar a transar com ele. Hitschmann acredita que o desejo das mulheres de estudar não é histeria e sim uma cura para ela. No entanto, questiona o motivo pelo qual todas as mulheres médicas parecem ser feias e ter seios pequenos. Ele afirma que o princípio feminino é ter filhos, mas que isso é algo relacionado a espécie e que não somo reféns do nosso biológico. De maneira chistosa, finaliza dizendo a Wittels que ele apenas quer cultivar um desejo de que todas as mulheres se mantem putas, prontas para o coito e que ele parece um macho no cio.

Freud expressa um reconhecimento pelo esforço da escrita de Wittels, mas não deixa de dizer que ele foi extremamente indelicado com as mulheres em seu texto. Freud afirma que a civilização impõe fardos pesados as mulheres e que por isso elas ficaram atrasada em termos de evolução na relação com os homens. Por isso, Freud acredita que ele questiona o lugar das mulheres na medicina apenas porque se trata de algo novo socialmente. Freud prossegue afirmando que Wittels confunde sexualidade sublimada com sexualidade bruta e que por sem jovem, logo vai perceber que as mulheres médicas não têm aversão a sexualidade, mas quando saca isso, se torna misógino, em defesa. Ele despreza as mulheres porque pretende desmascarar o objeto que um dia venerou.

Adler acha que Wittels é como um menino que acabou de levantar a saia da amiguinha de escola e descobrir que ela tem genitais femininos e que ele descobriu também que todo médico mexe com o sexual, seja homem ou mulher.

Wittels responde que está extremamente afetado pela fala dos amigos e por isso não se vê em condições de responder aos comentários. Mas retoma que é “incapaz de ter em alta conta a mulher que não escuta o chamado da menstruação”.

Vale a pena acrescentar, a título de localização histórica, que Wittels era sobrinho de Isidor Isaak Sadger, um psicanalista que também participava das reuniões das quartas-feiras. Sadger era obcecado por temas como homossexualidade e perversão e foi considerado um fanático da psicanálise. Freud chegou a chamar Sadger de “fanático hereditariamente tarado por ortodoxia”, que só acreditava na psicanálise por um desvio, poderia mesmo ser fanático por qualquer religião. Segundo Roudinesco, Sadger aplicava a teoria da sexualidade ao pé da letra, sendo conhecido por sua misoginia extrema e por seu papel trágico na história da paciente Hermine, de quem era analista. (Hermine, alías, é uma outra grande história que outro dia eu conto com calma, ela foi uma das primeiras analistas de crianças e também uma das primeiras mulheres a entrar nas reuniões das quartas-feiras, mas tem uma história trágica dentro da psicanálise).

Não vou comentar essa reunião, vou deixar para cada um de vocês tirarem suas próprias conclusões.

 

Cinco gerações de mulheres em um jantar de família: histórias de horror sobre o assédio sexual

silencio

Estava em um jantar de família com cinco gerações de mulheres: minha avó, minha mãe, minha madrasta e minha prima mais nova. Conversávamos sobre as diversas experiências de assédio que vivemos durante a vida e chegamos a uma triste conclusão: parece que o que foi vivido por minha avó ainda é a mesma realidade vivida pela minha prima. Em relação ao assédio, parece que nada mudou. Compartilhamos narrativas e histórias de homens que, diariamente, mostram seus pintos na rua, roçam seus membros no nossos corpos no metro, passam a mão um pouco a mais até na hora da tatuagem e do exame médico. As situações são tão cotidianas que nos acostumamos a conviver com os sentimentos de vergonha, humilhação e medo.

Outro dia escutei alguns homens dizendo que as mulheres estavam exagerando nas redes sociais; eles diziam que os relatos nas hashtags #primeiroassédio #meuamigosecreto estavam passando dos limites: “ninguém aguenta mais escutar esses mimimis”, eles diziam. Outros diziam que rede social não era lugar para esse tipo de história ou desabafo. Quero dizer para vocês, queridos homens, que se fossemos realmente contar todas as situações de assédio que já passamos, não ia ter rede social que desse conta das repetidas histórias que não cessam de se apresentar em nossas vidas todos os dias, há anos e anos. Se vocês estão cansados de ouvir algumas delas, imagine o quanto nós estamos cansadas de vivê-las; o quanto nos apavoramos quando, num jantar em família, percebemos que muitos anos se passaram e nada disso evoluiu. O machismo está ai para nos aterrorizar sim, todos os dias, quando temos medo de ir fazer xixi na universidade porque sabemos que estudantes de engenharia, medicina, filosofia (e vários outros cursos), ainda hoje, estupram colegas de sala em bandos; quando trabalhadores da construção civil ainda se sentem no direito de abaixar suas calças em plena luz do dia; quando o pai do amigo do seu filho fica te olhando com aquela cara nojenta de tesão enquanto mexe a língua, te comendo com os olhos, em público.

Eu acho é pouco esses relatos. E sei que ainda temos muito medo de dizer nomes, fazer denúncias, porque nunca temos como provar. Pior ainda é quando a retaliação vem das próprias mulheres e de nossos familiares. Até mesmo de alguns analistas que insistem em usar a máxima “somos sempre responsáveis pelos nossos sintomas” para fazer valer o ponto de que, sempre, a culpa é da vítima, se esquecendo que somos inseridos em uma relação direta com a cultura que nos antecede, de um machismo poderosíssimo e muito difícil de derrubar. Vitimismo, vocês podem pensar! Talvez. Algumas mulheres se posicionam mesmo nesse lugar, vivendo e se alimentando dessa devastação por anos e anos. Mas, infelizmente, muitas mulheres nunca tiveram possibilidade de construir outro lugar que não esse que sempre nos foi oferecido de bandeja, gerações após gerações, como o lugar de mulher. Então, eu acho é pouco mesmo a quantidade de narrativas de assédio. Porque quando falamos, fazemos o mal estar surgir e tentamos finalmente sair da posição de vítimas, possivelmente nos tornando agentes de alguma mudança. A idéia é mais ou menos assim: ou vocês encaram o mal estar junto com a gente, para podermos mudar alguma coisa nos próximos anos, ou tudo vai continuar sempre sendo apenas histórias silenciadas, segredos de mulheres em seus jantares de família.

A publicidade e o fracasso dos ideais

Nosso tempo contemporâneo, seja ele pós-moderno, hipermoderno ou o fracasso da modernidade, é um tempo de descontinuidade. Ficou no passado o período em que determinados ideais reinavam imperiosos oferecendo suas certezas, ainda que não inclusivos e para poucos. Para a maior parte das pessoas, as nomeações tinham um efeito de sustentação desses ideais, bastava nos adaptarmos a eles. Nos formulários, por exemplo, você escolhia se era do sexo feminino ou masculino, se era solteiro ou casado, escrevia o nome do seu pai e da sua mãe, dizia a cor da sua pele. Tudo parecia muito simples.

Hoje as respostas já não são mais tão simples. Estamos no cerne de longas e profundas transformações sociais advindas especialmente dos que se sentiam excluídos por esses ideais e nomeações, ou seja, do que ficava de fora. A parcela de pessoas que ficava excluída e “sobrava” era muito grande, mas não tínhamos ainda espaço para lidar com esses números. O fato é que o ideal era para poucos e o que ficou de fora por muito tempo, retornou demandando reconhecimento. O que ficou de alguma maneira excluído da possibilidade de nomeação, insiste para ter seu espaço. Assim, temos vivido uma enxurrada de novas possibilidades de identificações e renomeações, na busca por evidenciar a pluralidade de diferenças. Não é mais tão simples preencher no formulário o nome do pai e da mãe, porque passamos a ter famílias com duas mães e/ou dou pais. Fazer um x no espaço que identifica nosso gênero, por exemplo, ficou complicado para algumas pessoas trans que ainda não sabem como devem se identificar entre as opções masculina e feminina. De alguma maneira, tudo como conhecíamos vem sendo descontruído e reconstruído de uma maneira inquietante e veloz. As siglas aumentam, as nomeações aumentam e mesmo assim fica a sensação, no final do dia, que nada disso ainda é o suficiente para dar conta da diferença, anunciando que muito mais está por vir.

Toda essa avalanche de situações e novidades apresentam novos dilemas, ninguém se salva. Como se referenciar a homens e mulheres quando essas duas categorias não parecem mais ser suficientes para distinguir as pessoas? Como reconstruir nossos lugares sociais, nossos ideais e fantasias quanto tudo está mudando tão rapidamente e as pessoas ainda não conseguiram apreender a importância dessas tentativas (muito mais do que o sucesso ou o fracasso delas)?

No meio dessa confusão, publicitários, grandes vendedores de imagens, tentam encontrar um porto seguro para trabalhar. Quando as imagens de um ideal passam a não servir mais, outras imagens tomam a frente, em uma quantidade impressionante. Por trás de toda imagem vendida por um publicitário, existe um ideal atrelado. Assim, aprofundar-se no que está sendo vendido é importantíssimo para um profissional ter sucesso na venda de suas imagens e ideais. Não basta mais fazer uma promoção em que a mulher ocupa um lugar secundário, de esposa ou mãe. Esse ideal já não corresponde a maior parte da realidade das mulheres hoje. Usando ainda o exemplo das mulheres, elas têm se permitido construir diversos espaços para ocupar e representar. Portanto, como fazer uma propaganda voltada para o público feminino que possa incluir a vasta dimensão do que é ser mulher hoje?

A partir de questões que não possuem respostas fáceis, muitas pessoas tem se implicado, dedicando tempo, estudo e criatividade para construir propagandas que possam ser inclusivas, ou seja, buscam achar soluções que permitam diversas possibilidades e que de alguma maneira não ofendam gratuitamente a nenhum grupo específico. É uma missão dificílima, já que tudo se parece muito com um terreno em erosão. Os publicitários engajados já sacaram que uma propaganda nunca será apenas uma propaganda inocente; que questões políticas estão mais presentes do que nunca e que não podem simplesmente ser deixadas de lado. Mas nem sempre é assim. Infelizmente.

Essa semana, tivemos um exemplo de como uma propaganda infeliz pode ter um desfecho trágico. Uma churrascaria publicou em sua página do facebook uma propaganda que pode nos ajudar a pensar no que estamos colocando em pauta. A propaganda era a seguinte:

Propaganda 01

Em uma primeira olhada, não observamos nenhum crime ou afronta gritante acontecendo na propaganda. Percebemos que o desconto é proporcionado de acordo com o gênero da pessoa que se apresenta no estabelecimento e isso gera algumas questões. Ao meu ver, nada que não pudesse ser esclarecido de uma maneira tranquila e inteligente, ainda que pautado em um ideal que hoje fracassa. Sabemos que a questão dos gêneros é um assunto extremamente atual e suscita paixões e questões importantes, como, por exemplo, sobre o lugar da mulher em uma sociedade ainda extremamente machista. Logo, o esperado aconteceu: algumas mulheres questionaram o motivo do desconto apenas para mulheres. A questão é bastante pertinente para os tempos atuais. Mas parece que não foi isso que os responsáveis pelo anúncio pensaram. Frente a questão, sobre o que faria mulheres “merecerem” pagar mais barato, a discussão ferveu nos comentários da página. A discussão entre os usuários caminhava para: (1) a mulher não “merecer” mais ou menos do que homens, já que a luta pela igualdade de direitos defende essa postura; e (2) usar a idéia de gênero para justificar uma meritocracia está fracassada como ideal na atualidade e sempre gera mal estar. Ao invés de encarar o mal estar já instalado, o restaurante decide:

cancelamento e mimimi

A partir do posicionamento acima, o que era apenas um caso de propaganda mal planejada passa a ser uma questão de descaso com possíveis clientes. Responder a inquietações de algumas possíveis clientes foi tomado como bobagem, “mimimi”. O texto ainda deixa claro que, na ética da empresa, vale tudo para conseguir atenção, a qualquer custo. E já que o objetivo foi atingido (“o restaurante está cheio”), as questões políticas suscitadas pela propaganda não passam de “blá blá blá”.

Estamos todos vivendo no tempo da inexistência de uma suposta neutralidade: tudo é posicionamento político, inclusive a decisão por não participar ou por permanecer em silêncio. Fazer pouco caso da problematização de algumas pessoas não poderia ter sido mais infeliz. O restaurante poderia ter saído dessa sinuca de bico de diversas maneiras, mas preferiu agir com deboche frente a uma questão que é muito séria para alguns. A partir disso, o tom de guerra já estava instalado.

Não satisfeitos com o resultado da avalanche de críticas frente a propaganda e o posicionamento do restaurante, eles novamente mudam seu posicionamento, mas dessa vez para explicitar a posição política:

Reiteração da propaganda machista

“Apoiamos medidas que confortem às famílias nesta crise, PRINCIPALMENTE OS PAIS DE FAMÍLIA que somando os gastos DA ESPOSA E FILHAS acabam muitas vezes deixando de participar do almoço de confraternização apenas pelo preço”.

Aqui nesse trecho fica evidente a posição política e o ideal que sustentaram a propaganda desde o início: a cena de uma família em que o homem sustenta a casa e suas mulheres (esposa e filhas) e que por isso deve ganhar desconto para pagar por elas. Reparem ainda que a imagem usada, das mulheres com coraçõezinhos, só reforça um outro estereótipo sobre mulheres, que elas se reúnem apenas para falar de suas paixões e romances).

A frase e a foto carregam um ideal tradicional e machista que vem sendo insistentemente desconstruído ao longo dos últimos anos. No quesito família, já aprendemos que as famílias hoje são de diversas formas: mães solteiras, dois homens, duas mulheres, enfim, diversas apresentações que não se enquadram nesse ideal de família descrito. No quesito gênero, existem diversas famílias que são sustentadas por mulheres e diversas outras famílias em que o casal divide igualmente suas despesas, ou seja, o gênero já não define mais claramente o lugar da mulher nem do homem nas relações. No que tange a foto, sabemos que os assuntos das mulheres são os mais plurais possíveis, ou seja, dá pra brincar de desconstruir esse ideal antigo e frágil sem se esforçar muito. O preconceito e o machismo na resposta são explícitos.

Se isso já não fosse um problema suficiente para ser pensado, existe ainda uma outra questão: o discurso de ódio que é gerado por esse tipo de posicionamento (anti)ético. Em um dos posts, o restaurante faz questão de afirmar que não se responsabiliza pelos comentários em sua página. Justifica que não possui tempo para ler comentários e moderar, algo que atualmente é esperado com responsabilidade social de qualquer empresa que decide habitar o espaço online. Não se responsabilizar pelo conteúdo gerado em usa página vai na contramão do que temos acompanhado nas redes sociais, de empresas preocupadas com a inclusão. Assim, assistimos a um show de horror e ódio:

coment machista 01 coment machista 02 coment machista 03 coment machista 04 coment machista 05 coment machista 06

Esses comentários, todos masculinos, reforçam as suspeitas que não calaram: o machismo existe, e forte! Por que o fato de algumas mulheres questionarem as bases que sustentavam o desconto do preço, pautado por gênero, incita tanto ódio nas respostas das pessoas? Por que mulheres precisariam comemorar isso que é chamado de “cavalheirismo”, um “benefício”, que na verdade só evidencia uma condescendência gigantesca com elas? Sendo a sociedade justa na questão de gêneros, mulheres e homens poderiam pagar e ter os mesmos descontos, sem que isso fosse um peso para o outro gênero. Ao não se responsabilizar pelo discurso de ódio, o restaurante comete uma segunda violência com essas mulheres, reafirmando que elas precisam aceitar sempre o que um imperativo social machista diz que elas devem gostar ou não.

E só piora. As mulheres se voltam contra as próprias mulheres:

coment mulher 01 coment mulher 02 coment mulher 03 coment mulher 04

Desde quando um pedido de igualdade de direitos, independente dos gêneros, se torna uma questão de falta de pinto? Mulheres que lutam por igualdade de gêneros não podem ser consideradas mulheres? Exigir respeito e igualdade de gênero sempre vai terminar reduzido a piadas ridículas sobre pênis? A vida de uma mulher se resume a encontrar um homem que a queira?

Como podemos perceber, uma única propaganda pode fazer muito estrago. Tudo é política. Tudo carrega um ideal sobre o ser humano e suas relações. As desconstruções não param de acontecer e novos ideais e respostas não param de surgir. Será que podemos conviver com a idéia de que perguntas não são um problema? O problema real aqui parece ser a falta de espaço para o debate e o respeito ao diferente nas discussões. Até quando ainda teremos publicidades como essa? Até quando as pessoas ainda vão achar graça disso tudo e continuar rindo?

Como disse Duvivier em uma entrevista recente, fazer humor é tomar partido. Ou seja, até o humor é político. E sim, podemos escolher nossas piadas e do que rir. Fazer piada de quem está lutando por seus direitos não parece nada divertido.