“A morte é quando a gente não fala mais”

A tentativa de suicídio na infância, quando levada a cabo por sujeitos neuróticos, sempre implica um apelo, razão pela qual ela jamais é pura passagem ao ato. Ela sempre denota uma dificuldade no relacionamento com aquele que o sujeito institui no lugar do Outro. Denota que algo passou despercebido ao Outro mesmo que, muitas vezes, o sujeito tenha chamado atenção para isso de outras maneiras.

O que quero dizer com isso é que as pessoas precisam parar com essa história de : “fulano só faz drama, só quer chamar atenção”, “se quisesse se matar mesmo já tinha feito” e tantas outras frases do gênero. Oras, se uma criança/adolescente “precisa” atuar de forma tão violenta contra eles mesmos para “chamar atenção”, esse ato deveria causar preocupação e não descaso.

Devemos nos preocupar e ouvir esse grito, um apelo a um sofrimento que não tem destino. Falo isso não apenas nos casos de tentativa de suicídio, mas também nas diversas psicopatologias infantis que acompanhamos, como as automutilações, os atos violentos, uso de drogas e tantas outras situações que acontecem de maneira cada vez mais precoce.

A respeito especificamente da depressão na atualidade, recomendo a leitura do mais novo livro de Maria Rita Kehl, intitulado O Tempo e  o cão. É praticamente um tratado sobre a atualidade da depressão com exemplos da literatura e de casos clínicos.

Aproveito e deixo também um vídeo que preparei para uma aula que dei nessa semana sobre o tema do Desamparo. A idéia do vídeo (que foi feito com uma seleção de cartões postais do Post Secret) era de tentar viver um pouco disso que é uma dor, uma angústia sem nome que muitas pessoas sentem em alguns momentos da vida, quando não por uma vida toda. Temos essa tendência a achar que deprimido é tudo gente dramática, mas não nos aproximos disso que é uma sensação de horror e desamparo diante da vida, que não só não tem fim, como parece impedir qualquer tipo de simbolização. Uma saudade de um tempo que foi e não volta nunca mais. Uma saudade que as vezes não se sabe nem do que. De qualquer maneira, nos aproximando desse campo de sensações, podemos tentar lidar com essa realidade sem julgar com tanta rapidez. Será que conseguimos?