Hoje fui abordada por 3 viaturas policiais na rua. Já estava em frente ao prédio do meu consultório. Três carros nos abordaram de forma súbita, já com armas apontadas para dentro do carro, pedindo que saíssemos com as mãos pra cima e encostássemos no carro. Por ser mulher, pediram que eu ficasse de lado e prosseguiram com o procedimento de revista em meu marido que, assustado, não fazia exatamente o que os policias pediam.

Depois dos 5 minutos de estresse geral (da nossa parte e da parte dos policiais), eles nos explicaram o que aconteceu e porque a abordagem: perseguiam dois “marginais” que estavam no mesmo local com o mesmo tipo de carro.

 

Medo, angústia, terror, humilhação, impotência.

 

Um evento desses, obra do puro acaso, me fez pensar sobre o desamparo e a sensação de impotência e angústia que ele produz. E não podemos deixar de pensar na realidade das pessoas em que situações como essa não são acasos, já se tornaram parte de uma realidade cotidiana e rotineira. Vocês conseguem imaginar o que é morar em um bairro/favela em que todo dia você passa por situações que te confrontam com sentimentos tão arrebatadores com o medo, a angustia, o terror, a humilhação e a impotência?

De passagem pelo Rio de Janeiro (que, aliás, é minha cidade natal) para um evento, percebi o quanto a violência foi internalizada pelos moradores de lá. Parece que eles já não se assustam mais com os tiros que correm soltos pela noite e muito menos com o cheiro de urina e esgoto que percorre toda a cidade e suas lindas paisagens. E para aqueles que não conseguem acomodar esses afetos na rotina, existe o álcool e a droga para amenizar, anestesiar. Para outros ainda existe o ato violento, como forma ativa de rebeldia contra isso que é avassalador desse dia a dia da ordem do horror.

Mas, voltando ao lugar distante dessa realidade crua (que por vezes é jogada na nossa cara), me pergunto como podemos viver em um jogo de cartas marcadas, sem se deixar afetar por isso que é o horror de uma vida permeada de medo, humilhação, violência. Nos apressamos logo para dar destinos a esse mal estar, com políticas de pão e circo, e até mesmo políticas de saúde para todos, segurança social, contenção de situações de risco… E no final, não enfrentamos o mal estar que existe e permeia nossas relaões sociais. Será que isso é utopia ou possibilidade?

Então por hoje, não vou dar destinos a esse mal estar. Vou apenas falar dele e deixar o efeito produzir algo mais do que apenas um sentido.