Na busca de uma resposta para a falta de significante especifico de seu próprio sexo, a menina busca também respostas no seu corpo e na forma como vive sua sexualidade. Após Freud, outros autores como Melanie Klein adicionaram outras problemáticas pertinentes a realidade feminina. Para ela, é importante a forma como a menina representa seu genital, pois isso pode afetar a forma como ela lida com sua sexualidade e feminilidade.

De acordo com Klein, a primeira dificuldade para a menina seria de reconhecer seu genital, entende-lo e aceitar sua condição. Bernstein, por sua vez, propõe três termos para melhor entendermos essa fase da menina. O primeiro deles é o acesso, momento em que a menina percebe que não tem acesso aos próprios genitais, não pode vê-los da mesma forma que o menino, e por isso cria uma dificuldade de representação mental das partes de seu próprio corpo, principalmente em um lugar que gera sensações intensas. A falta de familiarização com seu genital torna-o alvo de fantasias proibidas ou sentimentos culposos, gerando angustia consigo mesma e sua sexualidade. Esse segundo momento denomina-se difusão.

O terceiro ponto seria a penetração. O formato da vagina, aberto, e cujo fechamento não há controle coloca a menina numa insegurança contra a sua proteção. Fantasiam sobre seu buraco e se sentem vazias, inertes. Não conhecem a origem de suas sensações e por vezes se incomodam com as mesmas, quando eventualmente ocorrem. Para a menina é como se ela tivesse um buraco aberto através do qual coisas podem sair e entrar, e que não há como abrir ou fechar, nem controlar o acesso. Assim, a menina sente como se estivesse sempre em perigo de penetração, e teme se machucadas pelo que pode entrar. Além disso, a autora complementa que, a questão de proximidade da vagina com o anus pode deixar a sensação, na menina, que sua vagina é suja.

Essa variedade de angústias, segundo Bernstein, é central no processo de definição da sexualidade e feminilidade na menina. Porém, segundo Mcdougall, um caminho possível para neutralizar essas angústias e buscas seria a menina deixar de querer ter para poder ser, ou seja, sua falta do pênis se transformaria em um desejo pelo pênis. Outra solução poderia ser a maternidade, e assim por diante.

Eu acho toda essa teoria inglesa muito interessante, mas não concordo com ela. Acredito que ela é muito apegada a concretude da “inveja do pênis”. Lacan criticava muito a escola inglesa mais ou menos nesse caminho.

No Seminário 20, Lacan fala muito sobre feminilidade. Ele trata de gozo e demanda de amor, e quando fala de sexualidade feminina diz que esse sexo fálico masculino não diz nada para a mulher, porque ela não é toda (não tem o falo). Portanto o sexo só poderá lhe dizer alguma coisa através do gozo do corpo. Para Lacan, nada distingue a mulher como ser sexuado, a não ser pelo sexo. O gozo fálico seria o grande obstáculo do homem para entender a mulher, porque são gozos distintos. Então podemos pensar que tratar a feminilidade a partir da idéia fálica de inveja do pênis seria limitar e simplificar demais a questão.

(Continua…)

Para saber mais:

– J.Lacan – Seminario Mais, Ainda