Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

A Resistência

O mundo segue em frente, cada vez mais caótico. E os que nós, seres humanos, fazemos para dar conta de tudo? Tentamos nos conectar. Tentamos, com unhas e dentes, nos colar uns nos outros, na esperança de que isso não evite nosso desaparecimento no meio de tanto caos. Por que você acha que as redes sociais fazem tanto sucesso?
Com tanta coisa pipocando por ai, todo dia e toda hora, a sensação que temos é que vamos desaparecer. Percebemos nossa pequenez, nossa infimidade toda hora. Somos só mais um cliente que reclama do mau atendimento; só mais um @ no twitter; só mais um na fila do cinema; só mais um blog falando sobre algo supostamente interessante; só mais um beijo na boca de alguém na balada… sempre só mais um… Se somos assim tão irrelevantes, o tal grão de areia na praia, como fazer para se sentir algo mais, alguém coisa que vale a pena conviver?
A gente faz música, faz poema, faz podcast, faz blog, faz foto pelado para o #lingerieday… Vamos fazendo aqui e ali, e principalmente, vamos fazendo sintoma. Americano nunca gostou tanto de falar em distúrbio: distúrbio sexual, do aprendizado, do soluço, chega a ser ridículo… Mas o que não é nada ridículo nisso é a tentativa que vamos fazendo em ser algo, em inscrever, deixar uma marca que seja nesse caos todo. Nossos sintomas, nossos blogs estão ai para testemunhar um momento. Por que, no final de tudo, é isso que fazemos, nessas tentativas de se conectar, a gente testemunha tamanha confusão, interna e externa.
Então, por que ainda procurar um psicanalista com tudo isso acontecendo? Com twitter, com blog, com lugares pra falar dos sintomas, com redes sociais cheia de pessoas para escutar, compartilhar, dar pitaco, porque a psicanálise ainda seria relevante ?
“Hoje em dia, a Comunicação Social é espelho do grande mal-estar de nosso tempo, mal-estar esse que, grosso modo, pode ser definido como a angústia fundamental sobre a qual o ser humano se estrutura como sujeito e que é fruto da luta entre o chamado princípio do prazer (liberdade das pulsões) e o princípio de realidade (necessidade de freá-las).”
A gente se deixa levar por essa sensação de aconchego que esses meios nos trazem, mas somente isso não basta. E “como não se fascinar com os apelos da mídia? Há promessa de visibilidade (elemento sem dúvida fundamental para a constituição narcísica de nós humanos), e, quem sabe, a promessa de reconhecimento ( de um público amplo, mas não menos importante, reconhecimento entre seus próprios pares). Mas, não se pode esquecer, há também a oferta de que a presença na mídia terá como efeito a transmissão, para um público mais amplo, de idéias e informações que, em geral, estão restritas a um público muito menor.”
Nesse sentido, a psicanalise ainda é relevante, porque não precisamos continuar somente a testemunhar o caos. E também de nada nos adianta continuar denunciando, porque a denuncia nos coloca ainda como testemunhas. A Psicanálise está ai para lembrar que podemos, acima de tudo, resistir.
“Resistência, resistência, resistência – repetiu Antonio Negri em vários momentos de sua intervenção, ressaltando as vias pelas quais o sujeito poderá efetuar esse novo Renascimento, como aquele italiano há 500 anos: através da atualização de seu desejo. E não é mesmo isso o que a vida moderna, bem como a própria psicanálise, nos impo”
“O que é preciso reconhecer é que a imagem é simultaneamente o espelho da realidade e da fantasia. Cada imagem é assim a construção de uma nova realidade, que já não pode ser a realidade pura e perfeita desejada no controle seguro de nosso psiquismo. A Psicanálise é uma prática e um saber voltados para a compreensão dos movimentos e conflitos cotidianos das imagens que construímos de nós mesmos, nenhuma delas verdadeiramente real ou apenas fantasiosas. A imagem não é o “vilão” que oculta um verdadeiro conteúdo. A imagem não é ilusão. Mas também não é causa de desilusões.”

O mundo segue em frente, cada vez mais caótico. E os que nós fazemos para dar conta de tudo? Entre tantas coisas, tentamos nos conectar. Com unhas e dentes, tentamos nos colar uns nos outros, na esperança de que isso possa evitar nosso desaparecimento no meio de tanto caos. Por que você acha que as redes sociais fazem tanto sucesso?

Com tanta coisa pipocando por ai, todo dia e toda hora, a sensação que temos é que vamos desaparecer. Percebemos nossa pequenez e nossa infimidade toda hora. Somos só mais um cliente que reclama do péssimo atendimento; só mais um @ no twitter; só mais um na fila do cinema; só mais um blog falando sobre algo supostamente interessante; só mais um beijo na boca de alguém na balada… sempre só mais um… Se somos assim tão irrelevantes, o tal grão de areia na praia, como fazer para se sentir algo mais, alguém que vale a pena conviver e escutar?

A gente faz música, faz poema, faz podcast, faz blog, faz foto pelado para o #lingerieday… Vamos fazendo aqui e ali, e principalmente, vamos fazendo sintoma. Americano nunca gostou tanto de falar em distúrbio: distúrbio sexual, do aprendizado, do soluço, chega a ser ridículo… Mas o que não é nada ridículo nisso é a tentativa que vamos fazendo em ser algo, em inscrever, deixar uma marca que seja nesse caos todo. Nossos sintomas, nossos blogs estão ai para testemunhar um momento. Por que, no final de tudo, é isso que fazemos, nessas tentativas de se conectar, a gente testemunha tamanha confusão, interna e externa.

Então, por que ainda procurar um psicanalista com tudo isso acontecendo? Com twitter, com blog, com lugares pra falar dos sintomas, com redes sociais cheia de pessoas para escutar, compartilhar, dar pitaco, por que a psicanálise ainda seria relevante ?

“Hoje em dia, a Comunicação Social é espelho do grande mal-estar de nosso tempo, mal-estar esse que, grosso modo, pode ser definido como a angústia fundamental sobre a qual o ser humano se estrutura como sujeito e que é fruto da luta entre o chamado princípio do prazer (liberdade das pulsões) e o princípio de realidade (necessidade de freá-las)

A gente se deixa levar por essa sensação de aconchego que esses meios nos trazem, mas somente isso não basta. E  “como não se fascinar com os apelos da mídia? Há promessa de visibilidade (elemento sem dúvida fundamental para a constituição narcísica de nós humanos), e, quem sabe, a promessa de reconhecimento ( de um público amplo, mas não menos importante, reconhecimento entre seus próprios pares). Mas, não se pode esquecer, há também a oferta de que a presença na mídia terá como efeito a transmissão, para um público mais amplo, de idéias e informações que, em geral, estão restritas a um público muito menor.”

Nesse sentido, a psicanalise ainda é relevante, porque não precisamos continuar somente a testemunhar o caos. E também de nada nos adianta continuar denunciando, porque a denuncia nos coloca ainda como testemunhas. A psicanálise está ai para lembrar que podemos, acima de tudo, resistir.

“Resistência, resistência, resistência – repetiu Antonio Negri em vários momentos de sua intervenção, ressaltando as vias pelas quais o sujeito poderá efetuar esse novo Renascimento, como aquele italiano há 500 anos: através da atualização de seu desejo. E não é mesmo isso o que a vida moderna, bem como a própria psicanálise, nos impõe”

“O que é preciso reconhecer é que a imagem é simultaneamente o espelho da realidade e da fantasia. Cada imagem é assim a construção de uma nova realidade, que já não pode ser a realidade pura e perfeita desejada no controle seguro de nosso psiquismo. A Psicanálise é uma prática e um saber voltados para a compreensão dos movimentos e conflitos cotidianos das imagens que construímos de nós mesmos, nenhuma delas verdadeiramente real ou apenas fantasiosas. A imagem não é o “vilão” que oculta um verdadeiro conteúdo. A imagem não é ilusão. Mas também não é causa de desilusões.”

Citações daqui: A Psicanálise e as Mídias Sociais e A Imagem da Imagem

4 Comments

  1. Fernando Paes de Barros Jr

    Olá Aline, adorei o seu texto. Você falou de duas coisas que realmente adoro ler e acompanhar e de uma forma prazeirosa e facil de entender.

  2. Rafael Pereira

    Parece o bom e velho “reclamar não leva a nada”. Ações são mais que delatar, com certeza.

  3. Rafael

    O lance é q a psicanálise nunca deixou de ser relevante, então não acompanho a defesa do porquê ela “ainda” é relevante.

    Na minha farta ignorância, acredito que nunca chegará o dia em que o ser humano entenderá sua mente e/ou seu comportamento e/ou de seus pares.

    Sendo esses funcionais ou disfuncionais.

    Acho q é isso que queria dizer.

    • Aline Accioly

      A mídia está sempre colocando em cheque a psicanálise. De tempos em tempos encontramos reportagens em revistas, jornais ou na tv.
      E sim, podemos entender muito do nosso inconsciente, só precisamos nos questionar o quanto queremos entender, e por qual via escolhemos começar nossa caminhada. Essa é a questão. E está muito além de meros comportamentos e dos julgamentos que os acompanham.
      O que eu queria dizer é exatamente o que está não está dito, e nunca estará, porque nunca é possível dizer tudo de uma experiência.
      Obrigada pelo comentário.

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