Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

Modernidade ou Pós Modernidade?

Antes de começar é importante dizer que existem grandes discussões acerca da nomenclatura que se dá para um conjunto de características da nossa sociedade vigente. Alguns autores acreditam que estamos na era moderna enquanto outros defendem a existência de uma pós-modernidade. Não vou resolver essa questão, apenas apresentarei alguns pontos para discutir um pouco as características que compõem esse momento que chamo de modernidade. (Isso aqui é só um pedacinho de uma pesquisa, ok?)

Para alguns autores como Jair Santos, modernidade se refere às mudanças ocorridas nos últimos dois ou três séculos, representando liberdade e autonomia. O indivíduo passa a ter consciência de si, tornando-se cidadão e sujeito histórico. Rompem-se todas as barreiras econômicas, políticas, sociais e culturais. O fácil acesso à informação aproxima os homens e as civilizações. O homem moderno está em contato com todos os homens do presente e do passado, do contemporâneo ao ancestral.

Já o pós-moderno nasce com a computação, e oferece à sociedade muitas facilidades trazidas pelas tecnologias, porém tem um lado negativo: limita as sociedades de forma abrupta. Isso porque na modernidade se buscava a essência do ser, e agora no pós-moderno as pessoas recebem tudo pronto com o advento da tecnologia, e esquecem de pensar. O pós-moderno chegou com a tecnologia de forma a deixar as pessoas mais presas em suas individualidades.  No plano econômico, o modelo é chamado capitalismo flexível, no qual o homem se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo e ao individualismo. Jair Santos diz que o ambiente pós-moderno é basicamente isso: entre os indivíduos e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação, que não informam sobre o mundo e sim o refazem à sua maneira.

Gérard Raulet associa modernidade ao marxismo. Para ele, Marx via na modernidade não só a contradição inerente à sociedade, mas também à expressão da irracionalidade da realidade. Na modernidade, portanto, existiria uma relação complexa entre racionalidade e irracionalidade surgida pela realização da razão e da irracionalidade ao mesmo tempo. Ainda falando de Marx, ele relembra que os marxistas contemporâneos não aceitam a existência de uma pós-modernidade porque, para que esse tempo existisse, a modernidade teria que estar morta e isso ainda não aconteceu. Uma organização social nunca desaparece antes de desenvolver todas as forças produtivas que ela é capaz de conter e, sendo assim, seria necessário primeiro esgotar a modernidade, para aí sim falar na possível existência de uma pós-modernidade.

Para Siqueira, a pós-modernidade é um contexto histórico que se caracteriza por profundas transformações no campo tecnológico, na economia, na cultura e nas formas de sociabilidade, assim como na vida cotidiana. Ele acredita que a pós-modernidade é um fenômeno que expressa uma cultura globalizada e de ideologia neoliberal.

Jair Santos acredita que as relações entre modernidade e pós-modernidade são ambíguas. Ele defende que o individualismo atual nasceu com o modernismo, mas o seu exagero narcisista é um acréscimo pós-moderno. O homem moderno mobilizava massas para amplas lutas políticas; o homem pós-moderno atua apenas no microcosmos do cotidiano. Assim, o pós-modernismo é caracterizado pela tecnologia eletrônica de massa e individual visando a saturação de informações. Na era da informática lida-se mais com o signo do que com as coisas. Portanto, no pós-modernismo a sociedade é ávida pelo consumo personalizado, que tenta a sedução do indivíduo isolado para que usem seus bens de serviço. Por isso, o pós-modernismo encarna estilos de vida nos quais imperam o nada, o vazio, a ausência de valores e de sentido para a vida, e por isso se entrega ao presente, ao prazer, ao consumo e ao individualismo.

Segundo Taschner, a pós-modernidade por vezes aparece como um momento que sucede a modernidade, e em outros momentos aparece como uma era que se contrapõe a ela. Para ele, muitos são os teóricos que apontam a inexistência de um momento pós-moderno, pois entendem que esse momento estaria ainda incluído na modernidade.

Para Jair Santos, o pós-modernismo surge em termos de consumo e informação. Porém, ele admite a existência de debates em relação ao termo correto para nomear a atualidade, e por isso acredita que ainda não é possível dar uma definição correta e certa se o momento em que vivemos é modernidade ou pós-modernidade. Essa discussão é ampliada por Taschner, que relembra que essa temática pós-moderna vem sendo amplamente discutida pelas mais diversas áreas do saber. Esses estudiosos partem do pressuposto que a crise da modernidade consiste na situação de que a ciência moderna não mais proporciona as bases teóricas que possam apreender a possível condição pós-moderna, ou seja, a realidade contemporânea.

Harvey, outro estudioso desse assunto, defende que as mudanças que ocorrem na atualidade são, na verdade, não uma pós-modernidade, e sim um novo ciclo de compreensão do tempo-espaço na organização do capitalismo. Ele complementa, portanto, que a chamada pós-modernidade é caracterizada por transformações que acontecem no cotidiano e que se pauta na sociedade capitalista, numa nova fase que se mostra extremamente flexível. Se essas transformações ocorridas pautam-se na estrutura capitalista, então as relações modernas mudam principalmente em relação ao espaço/tempo.

Tratando mais especificamente do capitalismo, Sennet fala do chamado capitalismo flexível, um sistema que enfatiza a flexibilidade e ataca a rotina. Está sempre exigindo dos indivíduos agilidade e abertura para mudanças em curto prazo; o indivíduo precisa aprender a correr riscos e depender cada vez menos de leis e procedimentos formais. Este autor relembra que antes o tempo era linear, as conquistas eram cumulativas, o tempo era previsível e a sociedade reconhecia o indivíduo por suas conquistas individuais. Porém, com o advento do capitalismo flexível, o curto prazo instaura uma perda de controle, que corrói a confiança, a lealdade e o compromisso mutuo. A flexibilidade exigida corrói os laços em longo prazo, pois ser dependente neste momento não é desejado.

Outro autor, Berman aborda a modernidade enquanto campo de divergências e construções, e ao mesmo tempo de caos, fragmentação produtiva, social e psíquica, alienação e exploração física e mental. Para ele, a sociedade moderna vive sob um sistema de renovação, cuja destruição é a única possibilidade de existência. Por isso a dialética da modernidade encontra-se na existência de opostos. A modernidade seria somente um nome dado a um novo estado de coisas, uma nova configuração das relações, a existência de uma nova tecnologia, e com essas mudanças o homem passou a ser substituível.

Mas porque discutir modernidade e pós-modernidade? Que importância isso tem na vida e no dia-a-dia das pessoas? O adoecer, eu diria.

(Continua…)

2 Comments

  1. luciana fighera marzall

    Boa tarde, sou doutoranda so curso de adminsitração e pretendo escrever minha tese a respeito do significado do trabalho e gostaria de ter acesso ao seu texto completo. Poderia me ajudar? Sobre o que trata a sua pesquisa?

  2. Natanael Furtado Dias

    Cadê a continuidade?

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