Aline Accioly Sieiro - Psicanalista

Thinking

Outro dia estava passando na TV, de novo, Vanila Sky. E de novo eu não consigo não ver. Este, e Brilho Eterno de uma mente sem lembranças são filmes que capturam minha atenção. Tenhos os dois, mas se vejo passando na tv, não consigo não ver. Por que? É impressionante a tentativa do ser humano em não ter que dar conta de suas feridas narcisicas. Primeiro a gente tenta inventar um SuperHomem, alguém que não morre, e ainda por cima é capaz de salvar todo mundo. O sonho de todo ser humano. Mas ele não faria tanto sucesso se não se parecesse de fato com um ser humano, então para isso ele tem uma fraqueza. E é exatamente essa fraqueza que o aproxima tanto de nós. Passada a fase super-héroi, começamos a tentar inventar máquinas ou coisas que nos permitisse viver a vida do jeito que gostaríamos que ela fosse, sem coisas ruins. E é ai que entram os dois filmes. Que maravilha seria, ao ter um problema, você simplesmente se congelar, e assim poder sonhar o sonho mais perfeito pra sempre. Mas vamos analisar de perto essa situação. Quando a gente tem um problema, a probabilidade de sermos responsaveis pela existencia dele é quase de cem por cento. Então o pior não é você ter o problema, mas você ter que admitir que você o tem porque você mesmo o causou. Então, o que as pessoas fazem? Culpam o mundo, culpam qualquer coisa, menos elas mesmas. Uma vez que o problema já existe, é muito dificil lidar com ele, então não é mais facil criar uma realidade paralela onde você não precisa pensar nem lidar com o problema? Você simplesmente se congela, e escolhe exatamente o que quer viver,e assim ser feliz pra sempre. Mas, não se esqueçam, somos seres humanos. E por mais que não entedemos nossa cabeça, ela funciona além dos nossos desejos! Então você está lá, vivendo essa realidade paralela, mas algo dá errado. Algo vem pra te mostrar que aquilo também não é perfeito como você gostaria. Algo vem te mostrar que mesmo os nossos desejos mais profundos também podem ser horriveis de ser vividos. O que me lembra do segundo filme. O ser humano não gosta de sofrer, mais o sofrimento é inerente a nossa evolução. É por sermos capazes de, frente a um sofrimento, aprender seguir adiante, que evoluimos. Somos capazes de olhar para trás, enxergar nossos erros, aprender com eles, e poder viver o futuro de uma maneira melhor. Mas imagine se realmente inventassem uma maquina que apaga memorias? Que absurdo! Bom, você não teria que lidar com a dor de uma separação, com as frustrações da vida, como o fato de que nem todo mundo gosta de você como você gostaria, mas, o que seriamos capazes de aprender com isso? Seriamos eternamente errantes. Repetiriamos sempre os mesmos erros e assim sofreriamos sempre. Seriamos escravos de uma máquina, e de nós mesmos, de nossos erros. Então, quando vejo esses filmes, não consigo não assisti-los, e por que? Porque ainda é impresssionante como eles remetem a nossa vida real, na qual desejamos e pesquisamos ferozmente pra que essas engenhocas existam, e o perigo de que um dia elas possam existir me assusta um pouco. Será que não vale a pena sofrer, mas ser capaz de lembrar também todas as coisas boas da vida? Será que não vale a pena ter problemas exatamente porque somos capazes de resolve-los e ficarmos extremamente contentes com o rumo que toma a nossa vida quando somos nós quem decidimos o que quereremos do futuro? Será que o ser humano prefere ser objeto de sua vida, e não sujeito? E o preço que se paga? O triste e olhar para tudo isso e perceber que, como ainda não temos essas máquinas, temos outras coisas que nos afatam de nós mesmos e da vida. A internet, os remedios, os vicios, enfim, muitas coisas que nós mesmos inventamos para criar nossas realidades paralelas. E enquanto nos afastamos da vida, outros assumem nossos lugares e tomam decisões malucas pelo mundo e pa sociedade, e ai a gente vive essa caos que vivemos. E ai achamos mais um motivo pra continuar na nossa realidade paralela, afinal, o mundo está um caos. É um ciclo vicioso, e o ser humano nunca se implica nisso. Nossos atos sempre tem consequencias, inclusive quando a gente se retira para o nosso mundinho. Como dispertar a vontade de viver nessa multidão de pessoas que vivem suas realidades paralelas? Como mostrar que viver vale a pena, sofrer também vale a pena, e ser sujeito da sua propria vida pode ser muito gratificante? É a metáfora do sapo, ele sai e vê que o mundo é lindo, mas como voltar e convencer o outro que não quer sair? Temos esse direito? Ou mais, esse é nosso dever? Então, para celebrar o quanto é bom viver, recomendo o filme (que ainda não sei o nome em Português) Scenes of a sexual nature. É um filme que celebra as pequenas coisas da vida, os pequenos momentos, as brigas, os desencontros, os encontros, as escolhas que fazemos, enfim, um pouco de tudo. Recomendo também Stranger than fiction que mostra como é possivel nos tornarmos sujeito de nossas vidas mesmo quando já parece tarde, e como isso pode ser gratificante!

1 Comment

  1. Ana Bárbara

    Como eu não achei seu blog antes??? Obrigada, temos gostos de filmes parecidos e estou adorando as sugestões… Além da relação dos filmes com a psicanálise. Um prato cheio pra isso é o “Cisne Negro”. Chegou a ver?

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